Esse domingo foi o último dia da Brasil Game Show, o maior evento de games da América Latina.
Como gamer de carteirinha, é uma convenção que sempre quis conhecer. Como cosplayer, é mais uma oportunidade de ouro para vestirmos nossas personas favoritas. Como paulista, não tinha motivos para dizer não. O Expo Center Norte, afinal, é logo ali.
Esse ano, tive a oportunidade de ouro para embarcar de cabeça nessa Meca dos games. Eu e minha colega Juliana Mouro, arqueóloga do ARISE, decidimos ver por nós mesmos como a magia era feita.
Visitar uma convenção nos últimos dias tem seus prós e contras. O salão de evento pode ficar incrivelmente cheio ou absurdamente vazio.
Fomos esmagados por multidões aqui e ali – e mais de uma vez temi que meu sky hook de Bioshock: Infinite fosse destruído por um passante estabanado. Mesmo assim, a BGS felizmente estava mais próxima do segundo caso. O domingo foi um dia tranquilo.
A tranquilidade, no entanto, tem seu preço. Alguns dos expositores já tinham se despedido. A maioria dos convidados especiais também, embora tenhamos conseguido topar com Nolan Bushnell, o lendário criador do Atari.
Nada disso é muito sério. A cada convenção de que participo, sou mais e mais convencido de que são os pequenos expositores que fazem o passeio valer a pena.
Conhecer nossos ídolos é legal, mas há algo especial em ver alguém expondo o fruto de seu próprio trabalho, sem as roupagens da hype. É a maneira como muitas das “lendas” de hoje começaram. Ao passear pela BGS, foi fácil entender o porquê.
Ao longo da tarde, tivemos a oportunidade de conhecer algumas das promessas do mercado indie nacional. Algumas, como Rise of the Foederati, são games incrivelmente ambiciosos, que provam que nossa indústria já começa a superar seu bairrismo.
Até que ponto eles conseguirão a atenção que merecem, obviamente, só veremos no futuro. O que me chamou a atenção foi ver como vários dos autores possuem referências muito claras para suas obras. Seus jogos estão de provas: nos monitores, senti estar assistindo a versões alternativas de God of War, Dark Souls, Ori and the Blind Forest, Mass Effect e outros.
Se isso é útil (quando não vital) para chamar a atenção, pode ser também um calcanhar de Aquiles. Se a resultado final não se equiparar ao material de origem, o tiro pode sair pela culatra.
Originalidade é uma solução, mas nem todos parecem estar na mesma página. Se alguns games, como o hypado Distortions, transbordam de novidade, outros parecem menos seguros de onde ir.
Um expositor, por exemplo, me disse que a mitologia nórdica é pouco explorada em jogos. Porém, entre Hellblade: Senua’s Sacrifice, Banner’s Saga e Jotun (para citar só alguns), não parece ser bem o caso.
O mais incrível, de qualquer maneira, foi notar como vários desses jogos eram empreitadas individuais. Não porque seja novidade que, em tempos de Unity, Construct e RPG Maker, qualquer um pode criar seu próprio jogo.
Pode ser coisa minha, mas me parece mágico ouvir autores contando sobre sua visão, suas referências, seu processo de criação. Por exemplo, conversar com Israel Torgano, criador de Memories of Kami, e descobrir que ouvimos as mesmas músicas para trabalhar.
Infelizmente, mesmo o melhor dos eventos tem seus problemas. E não falo da maneira ríspida como a organização resolveu suas diferenças com o Flux Game Studio, que outros portais já comentaram.
Nesse sentido, nossa experiência com as delegações estrangeiras foi o que mais nos deixou a desejar.
A ideia de que o mundo de games está preso ao eixo EUA/Japão já virou um estereótipo. Coréia é uma potência dos e-sports. China possui um mercado doméstico assombroso, e o Leste Europeu mostra que tem outras cartas além de The Witcher.
Eu e a Juliana estávamos ansiosos para conhecer esse mundo. Infelizmente, seus estandes estavam dispersos de maneira pouco intuitiva. A missão chinesa, por exemplo, ficou ao lado da praça de alimentação, num espaço que parecia o restaurante do Kuga em Shokugeki no Souma.
Para piorar, nem todos os expositores – desses e de outros estandes – pareciam preparados a responder perguntas. Conversar com desenvolvedores é uma experiência de abrir os olhos. Porém, é um balde de água fria encontrar porta-vozes que não só não conhecem os jogos, como sequer fazem parte dos estúdios.
Felizmente, tivemos um encontro que fez todo o resto valer a pena. Pudemos bater um papo com Piotr Bajraszewski da 11 Bit Studios, criadores de nada menos que This War of Mine, um dos mais celebrados games indies para PC.
Piotr nos contou de seu futuro lançamento, Frostpunk, jogo de estratégia que parte de onde o último hit parou. Enquanto que This War of Mine acompanha um grupo de civis tentando sobreviver durante uma guerra, Frostpunk nos coloca nos pés de uma sociedade inteira batalhando a natureza num futuro pós-apocalíptico.
O game tecnicamente não está pronto, mas eu nunca o adivinharia pela demo que trouxeram à BGS. Frostpunk parece um jogo complexo e visualmente maravilhoso, sem dúvida uma das minhas maiores apostas do ano que vem.
O que dizer de comentários finais? A BGS vive à altura de sua reputação. Vislumbrar o futuro dos games valeu cada segundo do domingo. Espero ansiosamente por 2018 para poder curtir na íntegra o que experimentar. E pela próxima edição, para poder, mais uma vez, mergulhar nesse mundo de fios, LEDs e muita paixão.
Últimos comentários