Bem vindos ao Café com Anime, sua dose semanal de bom papo e animação japonesa!
Nessa temporada, o Finisgeekis, Anime21, Dissidência Pop e É Só um Desenho discutem The Promised Neverland.
A conclusão de Neverland chega não com sussurro, mas com um estrondo. Às vésperas do episódio final, aproveitamos para discutir o que fez dessa série tão instigante – e onde ela pisou em falso.
Confiram:
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- Vinicius Marino
Ante-penúltimo episódio. Acho que já podemos fazer um balanço, não?
Não é preciso ser um adivinho para saber que a trama de Neverland está se fechando. De uma maneira ou de outra, seu maior conflito (a tentativa de fuga de Grace Fields) está prestes a ser resolvido.
Tampouco é preciso de muito para notar que seu autor fez de tudo para tornar essa conclusão imprevisível. Episódio após episódio, cena após cena, até, acompanhamos um enredo que insiste em escorregar da nossa mão.
Com base em tudo o que tivemos agora – e tudo o que esse episódio trouxe- vocês acham que Neverland foi longe demais? Teria o anime cumprido seu objetivo bem demais?
- Fábio “Mexicano”
Longe demais? A minha impressão é que a história mal começou.
Se fosse só a história da fuga daquelas crianças então sim, estaríamos perto do fim, mas antes sequer que elas tivessem qualquer chance a coisa cresceu de proporção de tal maneira que elas simplesmente fugirem (ou fracassarem) não passa de um prólogo. Quanto a cumprir o objetivo … não sei, qual é o objetivo de Neverland? Às vezes eu ficava com a impressão que seu autor quer fazer uma crítica à criação e consumo de carne, mas a história é muito complicada para justificar que fosse apenas proselitismo vegano. Então o objetivo é a história em si. Bom, mal começou, como eu disse, se a ideia é se estender indefinidamente, sem dúvida está no caminho certo. Se tiver se referido ao tom da trama ou gênero, hmm, é um thriller muito bom, suponho? Mas bastante frustrante para quem espera um mistério ou suspense – e parei de esperar por isso, juro! Como você mesmo disse no encerramento do Café anterior, “tão empenhada em se tornar imprevisível, acaba nos dando pouquíssimo material para especularmos”, e é isso mesmo. Não é problema nenhum se esse o autor não quiser mesmo que especulemos – ou seja, se não for mistério ou suspense. Os atos apresentam várias pistas e são emocionantes, mas nos entreatos pode acontecer literalmente qualquer coisa, até mesmo anulando quase tudo o que (em termos de mistério) se evoluiu até então.
- Vinicius Marino
Por “longe demais”, quis dizer exatamente isso. Não o percurso literal que a história tomou, mas as bananeiras que o autor vem plantando para tornar cada twist excitante.
E sim, Neverland não é arte de “mensagem”. (Graças a Deus, aliás! Quem aguentaria um shounen do PETA?)
- Fábio “Mexicano”
Mas a morte da Krone evocou forte essa imagem, com as crianças comendo carne ao mesmo tempo em que ela era abatida Aliás, o próprio PETA percebeu a convergência de seus ideais e a mensagem acidental ou não de Neverland.
Quanto a esse tipo de “longe demais”, depende do que se espera da história. Depois de me frustrar mais de uma vez, e vocês aqui foram testemunhas de camarote disso, desisti de encarar Neverland como mistério ou suspense. Mas suponho que mesmo assim possa se tornar cansativo caso a história se estenda demais e o mundo continue crescendo sempre esmagando as esperanças de seus personagens – mas acho que isso ainda não aconteceu.
- Vinicius Marino
A cena simplesmente mostrou um paralelo entre a situação das crianças e da Krone. Em nenhum momento estendeu essa imagem a uma crítica ao consumo de carne ou uso de animais. Isto teria feito as próprias crianças “culpadas”, já que estão comendo bichos. Já parou para pensar de onde veio aquela salsicha? Pois é, aposto que o mangaká também não.
E o PETA “percebe a convergência” porque “perceber as convergências” é tudo o que essa seita secular é capaz de fazer. Eles têm uma produção cultural desprezível, um histórico de ativismo vergonhoso, uma causa que não inspira ninguém. E vivem de pedir “caronas”, atacando ou apropriando obras famosas, para se manter na mídia.
- Fábio “Mexicano”
Concordo. É preciso uma leitura bastante rasa, do tipo que eles costumam fazer mesmo, por isso que, óbvio, eles enxergam essas convergências. Eu só acho que algumas cenas podem dar azo a esse tipo de interpretação, mas como já disse, não me parece ser a intenção do autor.
- Diego
Eu vou ignorar todo o papo sobre a PETA (porque né) e só ir direto pra pergunta inicial do Vinicius sobre se o anime está indo longe demais. E isso porque a minha resposta é: olha… eu diria que ta bem perto disso. O anime já tem literalmente mais mistérios do que eu consigo me importar. O código nos livros, o que a Krone tinha descoberto que o Rey sabia, o que a Krone deixou para as crianças, e agora ainda temos o que quer que o Norman tenha visto naquela salinha brilhante. Está começando a me encodar esse empilhar de mistérios sem nunca responder nenhum, e mais um pouco eu nem vou conseguir lembrar de todos.
- Vinicius Marino
Fãs de animes adoram dizer que “o mangá é sempre melhor”. Eu sou da impopular minoria que acha que isto não é verdade. Pelo contrário, acredito que a linguagem visual tem um poder intrínseco que os quadrinhos custam a bater. Contudo, assistir Neverland com vocês, depois de ter lido o mangá sozinho, me fez entender que há um quesito, sim, em que mídias escritas podem levar o troféu.
O andamento.
Lendo Neverland um tankobon por vez, as tensões e resoluções do enredo se seguiam de uma forma tão rápida que formavam um ritmo próprio. Você aprendia a gostar daquela história alucinada, mesmo sabendo que não terminaria a história da mesma forma como a começara.
Muito embora o anime seja perfeitamente fiel ao seu material de origem, ter traduzido essa história a doses semanais de 25 minutos parece ter dado outra cara a sua trama. Reviravoltas menores (ex. a porta se abrindo) foram elevadas a grandes acontecimentos. E a simetria dos seus capítulos (ex. os flashbacks) acabam parecendo repetitivos.
Não quero dizer que o ‘formato TV’ seja necessariamente ruim. Mas não ornou muito esse tipo específico de história.
- Gato de Ulthar
Não sei se gostei desse episódio, nem se não gostei, me pareceu sei lá, qualquer coisa. Como o Diego disse, é mistério sobre mistério, e sem grandes pistas e revelações fica difícil conjecturar. É um tanto torturante ter de simplesmente aguardar os fatos ocorrerem sem ter a mínima noção de como, onde e quando algo de relevante pode surgir.
O Norman não me parece que foi levado pelos monstros né? Essa foi minha impressão.
Eu estava irritado com o fato de ele ir lá morrer, mesmo que isso fosse plausível, essa reviravolta pelo menos dá mais pano para manga.
- Fábio “Mexicano”
Não sei se é melhor ou pior do que o mangá porque não li o mangá.
Mas das poucas páginas que vi, acho a arte do anime mais bem acabada, e as sombras dão um tom muito mais sinistro à história também, no mangá parece ser tudo muito claro. Se o formato televisivo seriado não é “bom” para a história eu também não sei – pelo mesmo motivo, não conheço o original. Mas tendo a acreditar que sempre é possível adaptar, mas animes de mangás da Jump costumam adaptar bem pouco, optando por apenas transliterar a maior parte do enredo.
Seria um problema de adaptação, então, supondo que o ritmo fique melhor no mangá, e não um problema inerente da TV. De todo modo, desde que não se espere muito mistério (ou melhor, desde que não se espere ser capaz de acompanhar os mistérios), não acho que o anime esteja deixando a desejar.
Neverland quer nos dar esperanças e espatifá-las em seguida, e tem feito isso muito bem. Tão bem que talvez perca o efeito caso se prolongue demais, mas para um cour funciona bem.
- Vinicius Marino
Eu concordo, Fábio. A produção do anime está de parabéns Dentro dos parâmetros realistas, não consigo imaginar nada que gostaria de ver de outra maneira.
Mas já que você trouxe o assunto à tona, por que não falamos mais sobre isso? De tudo o que Neverland trouxe até agora, do que vocês mais gostaram?
- Diego
É difícil escolher uma só coisa. Mas acho que vou com a atmosfera. Neverland merece os parabéns por conseguir manter sempre uma atmosfera de tensão. Tudo parece sempre a um passo de dar errado, e dar errado da pior forma possível para todos os envolvidos. Não é fácil manter esse clima sem a audiência começar a perceber que não tem nada ali.
- Gato de Ulthar
Eu gostei da ambientação e do contexto no qual o enredo se desenvolve. Essa ideia de matadouro humano é bastante interessante, principalmente quando são crianças que não se dão conta disso as vítimas. Tenho que admitir que é bastante criativo.
- Fábio “Mexicano”
Eu gostei de como no final das contas o Ray pensa parecido comigo, hahaha! Excelente décimo primeiro episódio, disparou quase todas as pistolas que o Chekhov deixou armadas =P Mas ainda falta pelo menos a mensagem oculta dos livros, e talvez mais alguma coisa que eu esteja deixando passar agora. Com o que Neverland pretende nos surpreender no final, hein?
- Vinicius Marino
Difícil saber, pois o episódio 11 já nos trouxe uma bomba tremenda.
Eu sabia que esse momento chegaria, mas confesso que fiquei surpreso com a maneira como essa conclusão foi dividida. É em momentos como esse que fazem falta aquelas finales longas de dois episódios comuns na TV americana. O que eu não daria para curtir essa fuga como um grande especial!
Seja como for, acredito que esse desenlace comprovou várias das impressões que discutimos aqui ao longo do anime. Em especial, a razão para Neverland ter aproveitado tão cautelosamente seu status quo.
Como dissemos, as coisas não podiam mudar muito pois, se mudassem, seria sem retorno. Um incêndio no refeitório, condenando de vez a Casa Grace Fields, atesta isso melhor que mil palavras.
E falo apenas por mim, mas achei que a tensão e a competência desse episódio mais do que compensaram pelo interlúdio um tanto vagaroso do arco da Krone.
O que vocês acham?
- Gato de Ulthar
Olha, foi um episódio bem intenso. Eu realmente não esperava que houvesse todo esse plano secreto da Emma e do Norman para contar a situação para todas as crianças há bastante tempo. Me senti meio passado para trás, já que o anime não deu nenhuma pista disso. Mas foi legal de se ver, é gostoso ser pego de surpresa desta forma.
Só me pergunto uma coisa, era realmente necessário o Ray e a Emma terem cortado as orelhas fora? Eles ainda não possuíam aquele aparelho que desliga o rastreador? Na medida que fui escrevendo essa pergunta aqui me veio uma possibilidade, a Emma deve ter deixado o aparelho com o Don ou a Gilda, já que haveria a possibilidade dela não conseguir escapar com o Ray, então eles deveriam fugir sozinhos, e o aparelho era fundamental para usar nas crianças, não seria nada legal arrancar a orelha de todo mundo né?
E fiquei puto com aquele molequinho que ficou com a Mamãe, se bem era questão de tempo para ele aprontar alguma.
Agora capaz da Emma tentar voltar para salvar ele, nesse ponto espero que o pragmatismo do Ray funcione e tire dela essa possível ideia mortal.
- Fábio “Mexicano”
Eles precisavam desativar todos os rastreadores ao mesmo tempo, em dois lugares simultâneos, e só tinham um aparelho. Acho isso bem resolvido.
E a Emma pode voltar. Ela é candidata a Mamãe, ela não vai necessariamente morrer. Seria um desenvolvimento … interessante. Quero dizer, se todos eles fugirem, o resto da história vai ser o quê? Será que acompanhar a Emma dentro do esquema não seria mais interessante?
- Gato de Ulthar
E tem o Norman da questão, não me pareceu que ele foi enviado pro abate no episódio anterior.
- Fábio “Mexicano”
Até porque me parece que Neverland deu vários sinais de que a Isabella pode ter sido parecida com a Emma. Até a Krone teve seus momentos. A essa altura a Isabella está definitivamente perdida, ela falar sobre salvar “pelo menos o cérebro” diz muito sobre quão longe ela já foi. Mas e a Emma? Irá conseguir evitar as armadilhas psicológicas que destruíram Krone e Isabella?
E sim, fiquei com essa impressão sobre o Norman também. Mas disso isso desde lá: não apareceu corpo, estou desconfiado. E agora descobrimos que ele ganhou chaves da Krone.
Estou tremendo de curiosidade aqui para pesquisar “adult Emma” no Google. Será que estou certo? Será que estou errado? Acho que isso quer dizer muito sobre Neverland.
- Gato de Ulthar
Eu sei um fato sobre a Emma que me irritou por ser um spoiler descarado que fui exposto não-intencionalmente Deixo registrada minha raiva aqui!
- Fábio “Mexicano
No Facebook?
- Gato de Ulthar
Sim, já faz um tempo.
- Fábio “Mexicano”
Você não dá sorte com o Facebook. Enfim, a minha sorte é que quase não tenho acompanhado grupos de anime em redes sociais. Infelizmente mesmo os melhores deles têm gente tóxica.
- Diego
Também já tomei spoiler, ainda que um diferente do que o Gato deve ter tomado. Facebook bem podia ter uma tag de “spoiler” que escondesse certas imagens. Pena. Mas voltando ao episódios, foi mesmo bem interessante, e diria até que bem satisfatório, ver tudo se encaixando. Desde mistérios que eu já nem lembrava que existiam, como a conversa da Emma com o Norman, até a situação da Emma e do Rey no episódio passado. E agora é saber o que diabos aquele garotinho está fazendo do lado da mamãe. Será que ele é mesmo (ou quer ser) o novo “Rey”?
- Vinicius Marino
Acredito que esse último mistério se deve, em parte, ao “corte” que o anime fez. Ao dividir a fuga em duas – e, especial, desse jeito específico – trouxe uma ambiguidade à aparição do Phil.
Agora, eu preciso dizer que estou entretido com as possibilidades que vocês levantaram. Que a Emma virasse uma Mamãe não foi uma hipótese que passou pela minha cabeça quando eu li esse capítulo pela primeira vez.
Mais o mais interessante foi o que o Fábio disse: se eles fugirem, e aí? É um problema clássico em histórias de fuga (fãs de Prison Break sabem do que estou falando). Uma vez que todos estejam do lado de fora, é preciso voltar para dentro… ou aprontar alguma maracutaia que mude drasticamente o foco da história.
Vocês realmente esperam que a Emma se una ao esquema? Ou acha que Neverland virará a mesa e mandará essas personagens aonde nenhum protagonista jamais foi?
- Fábio “Mexicano”
Existe a hipótese também de que “fora da prisão, havia outra prisão”. Uma espécie de matrioska de prisões.
Mas pensando bem, acho que a hipótese nula seria eles fugirem mas a Emma decidir que vai acabar com o complexo e etc. Ela fez tanta questão de tirar cada alma viva de lá que não a imagino bem consigo mesma caso viva e cresça sabendo que aquela porcaria continua existindo. Mas se eles não conseguirem fugir … não sei. Ah, e os livros agora me irritam mais do que nunca. Uma pista que não deu em nada e está ardendo lá dentro.
- Diego
Não deu em nada ainda. Me parece bem provável que a primeira ação das crianças depois de fugirem deveria ser procurar pelo autor daqueles livros. Quanto ao avançar da série na longa duração, eu imagino que Neverland só acabará mesmo com o fim desse sistema. Que nossos protagonistas consigam fugir é legal, mas sempre ficará aquela lembrança de que em outras fazendas ainda há crianças virando comida de demônios.
- Gato de Ulthar
Não acho que ela vá se unir com a mamãe, e talvez se ela for será apenas com a intenção de se infiltrar.
E quanto aos livros, não imagino como a pista irá ajudar, como eles vão atrás do autor? Só se eles se esbarrarem sem querer por aí.
- Vinicius Marino
Como eles vão atrás do autor? Ah, Gato essa é a pergunta de um milhão de reais 🙂
Mas não vou dizer mais nada, com o risco de passar spoilers. E posto que amanhã teremos nosso grande finale, talvez seja melhor deixar as coisas por aqui, para dar tempo de preparamos a pipoca.
Até lá – e que a conclusão seja de fato bombástica!
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Essa “matrioska de prisões” que o Fábio citou me lembrou muito a sequência de Maze Runner.