Bem vindo ao Café com Anime, sua dose semanal de bom papo e animação japonesa!
Nessa temporada, o Finisgeekis, Anime21, Dissidência Pop e É Só um Desenho discutem Happy Sugar Life.
O lançamento mais controverso da temporada chega ao fim como um terror de primeira: chocante na medida certa, digirido com maestria, apavorantemente humana.
Numa época em que animes sofrem para sobreviver aos anos, Happy Sugar Life deixa calafrios que não vamos esquecer tão cedo.
Confiram:
[arrow]
- Vinicius Marino
É isso. Depois de doze episódios, a história de Satou é Shio finalmente chegou ao fim. Como suspeitavamos, o primeiro episódio foi mesmo um foreshadow do que estava por vir. Seu “amor” doentio terminou não em flores, mas numa ruína em chamas.Sei que esse final foi bastante catártico. Na Internet, não faltaram reações acaloradas (para o bem e para o mal). Então vou direto ao assunto: antes de mais nada, vocês estão bem? O final os traumatizou de alguma forma? - Diego
Bom, pelo menos pra mim esse final não supera a morte da Shouko em desconforto. Não sei se isso me deixa aliviado ou desapontado 😛 - Vinicius Marino
Para mim também não. E eu acho que isso me deixou um tanto desapontado por mais uma razão. Mas não quero me antecipar! - Gato de Ulthar
O final de Happy Sugar Life foi decente. Teve cenas muito emblemáticas, como o pedófilo loirinho sendo estuprado pela tia da Satou. Mas o que foi difícil de engolir foi a Shio, eu já não estava conseguindo engolir ela nos últimos episódios, mas o jeito dela se portar não foi de uma criança, mesmo de uma que foi vítima de abusos. - Fábio “Mexicano”
De novo, a Shio pareceu ter amadurecido rápido demais. E entendi a mensagem de ciclo de tragédia que ela se transformar na nova Satou no final quer dizer, mas ainda assim achei um salto meio difícil de explicar. Não obstante essas questões lógicas, em termos de espetáculo foi um belíssimo final. - Vinicius Marino
A postura da Shio sem dúvida é o grande elefante branco da sala. Vamos começar por ele, então?É algo que me incomoda desde aquele discurso uns episódios atrás, em que Shio parece supernaturalmente amadurecida só por uma conveniência de roteiro. Assistindo a esses dois episódios, no entanto, notei outra coisa. - Gato de Ulthar
O que notastes Vinicius? Só o que me fez sentir mal pela parte final de Happy Sugar Life foi justamente esse “Elefante Branco”. Lembro que comentamos em algum momento que crianças abusadas sexualmente acabam amadurecendo mais rápido, mesmo assim as atitudes da menina ainda parecem forçadas, pois não me parece o tipo de amadurecimento que se cria com um abuso.A Shio “amadureceu” mentalmente e não sexualmente. - Vinicius Marino
Em algumas tomadas, Shio é mostrada com um canino para fora – o famoso “yaeba ” da cultura pop japonesa, também conhecido como cute little fang em inglês. Que, em animes e mangás, geralmente é sinal de uma personagem travessa, arisca ou de alguma forma peralta.Fico me perguntando se o recurso não foi uma forma sutil (e não inteiramente bem sucedida) de mostrar que a Shio já estava mudando, bem antes do final dramático.
Minha esposa disse ter a impressão de que o Asahi também tinha esse canino para fora. Confesso que não reparei. E também não examinei o anime episódio a episódio para ver quando e de que forma isso aparece.
- Fábio “Mexicano”
Yeah… isso funcionaria tão bem quanto sei lá, ela usar uma meia de cada cor.Eu acho que ela querer casar (mesmo sem entender o que isso significa), beijar, aceitar a Satou com tudo o que ela é faz sentido. Ela vocalizar isso racionalmente, ou aquele discurso dela pro Asahi, não faz.E vá lá, ela já queria proteger a mãe. Vamos dizer que seja uma pessoa super empática. Isso explica o papo de corações que são vidros vazios (se ela tiver escutado a analogia em algum lugar, o que é possível). Ainda assim, o problema real é a escolha das palavras dela
Se tivessem feito ela soar uma criança mimada funcionaria. Ao invés, ela soou como a voz do autor explicando o que está acontecendo
- Vinicius Marino
Falando na mãe e no Asahi, eu não sei se compro o desenlace de ambos. Ok, tivemos uma explicação melhor sobre o que levou a mãe a abandonar os filhos. Vê-la envenenar o marido amarrou as pontas de uma forma competente. E de quebra, pelo menos para mim, tornou a personagem bem mais interessante.Mas aquele final específico, com ela ressurgida das cinzas, olhando o hospital de longe? E o Asahi com aquele discurso que, francamente, parece feito sobre medida para dar um microfone para a Shio? Sei que 12 episódios é pouca coisa, mas eu esperava um acompanhamento um pouco mais robusto dessas últimas cenas. - Fábio “Mexicano”
Eles são a família modelo do anime, né? Normal que os maiores defeitos estejam neles. E só eu fiquei com a impressão que tudo isso só aconteceu porque a mãe desobedeceu os pais e casou com um homem violento? Isso não seria um estranho apelo à tradição e autoridade em uma história que no geral mostra como a sociedade, pelo menos em suas franjas, está quebrada e produz tragédias? Não é contraditório? - Vinicius Marino
Sem dúvida que o casamento foi o estopim de tudo (pelo menos, do lado da Shio). Não entendi o ponto sobre a tradição, no entanto. Qual seria o apelo aqui? - Fábio “Mexicano”
Ora, a sociedade é o que é por causa, entre outras coisas, das tradições. Então ou você diz que as filhas devem ouvir os pais ou você diz que há problemas estruturais na sociedade - Gato de Ulthar
Só não acho que os pais não queriam que ela casasse com um homem violento, isso parece algo um tanto incomum quando se critica uma tradição social. Faria mais sentido supor que ela casou por amor com um cara que não foi aprovado pelos pais, e que por acabou se tornando violento com o tempo, ou apenas dava poucos sinais disso antes do casamento. Mas tudo isso é suposição, nem dá apra saber se o autor pensou nisso tudo. - Fábio “Mexicano”
Sim, mesmo o desenvolvimento da Shio e do Asahi podem ter parecido estranhos apenas por falta de tempo. Happy Sugar Life fez um trabalho excelente em retratar a Satou, mas ficou devendo do outro lado. - Vinicius Marino
Não entendo a dicotomia. É plenamente possível argumentar que a sociedade está quebrada e que é salutar ouvir os pais ao mesmo tempo. Aliás, é possível inclusive juntar os dois argumentos e colocar os pais (ou um pai ou mãe específico) como força de subversão contra a tradição e autoridade. É o que faz por exemplo o romance O Filho do Mestre de Órfãos, ambientado na Coreia do Norte (pra citar só um exemplo que me veio à mente agora.Não acho que Happy Sugar Life quis dizer algo tão específico, justamente porque o background da Shio não foi lá tão bem explorado. Mas salta aos olhos, na minha opinião, como (quase) ninguém no anime tem uma família funcional. A mãe da Shio tinha, mas acabou perdendo-os.O que, senão o estopim, também foi uma condição para que a tragédia acontecesse. Se tivesse um porto seguro para o qual fugir com as crianças, as coisas não chegariam naquele nível.
- Fábio “Mexicano”
Duas coisas aí: a primeira é uma coisa de lógica, mas talvez se aplique. Como o antecedente é falso, não se pode afirmar nada. Porque a família da Shio e a própria são muito mal desenvolvidos, naturalmente qualquer conclusão aqui além da superfície é só especulação. Estou especulando.Segundo, concordo com a avaliação geral sobre os pais serem importantes e tal, mas não estamos falando do caso geral, e sim especificamente sobre a sociedade japonesa. Não consigo vislumbrar como, na sociedade japonesa, se você tiver pais tradicionais (e não os conhecemos, estatisticamente é o que faz sentido assumir, porém), obedecê-los possa ser subversivo. - Vinicius Marino
Mas aí você está comprando o panfleto. “Sociedade japonesa” não é um caso específico. É uma generalização,e ao se fiar nela você deixa coisas mais importantes passar.Por exemplo, que a decisão da mãe da Shio não foi um ato de rebeldia contra a autoridade familiar. Foi, sim, parte de uma tradição muito mais funesta: o “casamento de espingarda” quando um jovem é forçado a casar com uma garota que engravida.Que ela tenha aceitado participar do acordo a torna tão supostamente “conformista” quanto ter deixado de ouvir os pais a torna “subversiva”. Ser “livre” nunca foi uma opção. Esse universo é fodido e só se pode escolher entre o fogo ou a frigideira.
Não quero dizer que a família dela é ou não é uma coisa ou outra. Só que não acho, pessoalmente, que essa é a mensagem que o anime quis passar. Para mim, é uma coisa muito mais “de baixo”, mostrando o sentimento de paranoia de vítimas de abuso, e como ele distorce o mundo até que pareça um pesadelo.
Para que eu e o Fábio não conversemos sozinho, o que vocês pensam disso, Diego e Gato?
- Fábio “Mexicano”
Deixei escapar mesmo, porque não tinha entendido que foi dessa forma. É no mínimo uma interpretação tão boa quanto a minha, e estou curioso para saber se você viu algum elemento apontando que tenha sido o caso?De casamento forçado, quero dizer. De todo modo, eu admito que não tenho base para essa minha interpretação em particular, foi só uma impressão baseada em fragmentos revelados pelo anime e o pouco conhecimento que tenho. - Vinicius Marino
Sim, peço desculpas. Acabo de ver que acabei trazendo algo que só apareceu no mangá. Como a mídia é sempre mais prolixa, acabou incluindo mais detalhes da vida dos dois.Aqui está um screen, para que vejam do que se trata:O capítulo é o 29, caso queiram conferir na íntegra.
- Fábio “Mexicano”
Ah, entendi. Bom, ainda assim, na falta de informação, seria uma suposição válida que também explica tudo o que aconteceu. - Diego
Bom, eu diria que essa informação do Vinicius meio que resolve o dilema do Fábio, não? Se a mãe foi forçada a se casar, eis ai uma óbvia crítica à tradição. Só é uma pena o anime nunca ter incluído esse “detalhe”. Dito isso, os pais completamente abandonarem a filha porque ela namorou – e engravidou de – alguém que os pais não gostavam me parece denotar que sua família também passava bem longe de funcional. Ou mesmo do ideal tradicional. Mas posso estar enganado. - Fábio “Mexicano”
Sim, perfeitamente resolvido nesse aspecto – que era uma crítica “terciária” minha, se muito.Olhando para a cara de desespero da garota e considerando o quão jovem ela é, me parece que foi estupro mesmo. - Gato de Ulthar
Até dava para inserir rapidamente esse background no anime, teria soado bem melhor as coisas.v - Fábio “Mexicano”
O anime foi bastante parcimonioso com backgrounds. O da Satou é simples, e mesmo assim deixa aberto a especulação: os pais dela morreram e ela foi morar com a tia louca. Minha especulação: todo o resto da família se recusou a ficar com a garota. Como isso é vida real e não um anime de parenting fofo como Usagi Drop, sobrou a louca. - Diego
Olha, eu vou dizer que tem bem pouco de “real” na vasta maior parte desse anime - Fábio “Mexicano”
Eu sei.Mas eu o entendo como uma hipérbole do real para criticar algo, não sei se sou o único, mas já disse isso antes. - Diego
E o que seria esse “algo”? Porque, francamente falando, e apesar de ter gostado do anime, Happy Sugar Life me soou, tematicamente, apenas a variante mais recente do trope “a humanidade é horrível”.O que, justo, conta como uma crítica, mas é uma bastante superficial. Arriscaria mesmo a dizer que sem a excelente direção, HSL se diferenciaria bem pouco de obras similares. - Fábio “Mexicano”
Sim, boa parte do que falamos até agora é exatamente isso Os diferenciais todos são técnicos. Happy Sugar Life abusa da linguagem animada para entregar sua mensagem da forma mais pungente possível. A leva ao limite – o limite possível pelo orçamento, claro. E que se diga também que é muita coisa que tenha conseguido evitar que em qualquer momento odiássemos a Satou.Parte do que me deixou tão chocado, tão aflito, no assassinato da Shouko, é que eu não consegui ter raiva da Satou.
- Vinicius Marino
Happy Sugar Life faz algo que outros mangás já fizeram (Mahou Shoujo Site vem à mente): dar uma “pausa” na trama principal próximo ao seu quarto final e despejar flashbacks sobre as personagens principais.Acho um jeito um tanto canhestro de desenvolver essas personagens. Pior ainda porque raramente isso é traduzido ao anime de forma apropriada.Mas enfim, estamos aqui falando do que esse final teve de ruim, quando na verdade teve muita coisa de boa.
Eu mesmo não sabia o que encontrar e fiquei positivamente surpreso com a maneira como o castelo de cartas caiu. Quando vi Satou emprestando os passaportes da sua stalker por um momento imaginei se o anime terminaria como um perseguição na estrada, com a tia maluca dirigindo Satou e Shio rumo à liberdade.
Escrevendo agora, acho que a premissa teria sido hilária. Mas de forma alguma caberia no tão curto tempo de exposição. E não é que não tivéssemos tido escapes tragicômicos de outras naturezas, com o Tayou saltitando pelado e amarrado pelos corredores do prédio em chamas.
Gente, Happy Sugar Life é uma série doente, hein? Quando assistimos até parece normal, mas basta escrever a respeito que a ficha cai
- Diego
Tente apenas dar a sinopse desse anime pra um desavisado sem ele te olhar torto. Fica ai o desafio :PMas uma coisa eu achei interessante nesse final foi a cena final de fato, aquele pequeno discurso da Shio. Sim, a menina claramente amadureceu muito além do que seria realista, mas todo aquele momento tem tanto um clima de terror, típico daqueles filmes onde o inimigo sobrenatural nunca é derrotado, apenas muda seu alvo, que eu achei genuinamente muito bom. Denota com perfeição a mensagem sobre um ciclo de desgraça que só faz se propagar. - Vinicius Marino
Eu concordo. Está implícito que a Shio perpetuará o ciclo vicioso. Se fosse o diretor, eu até enfatizaria isso mais.Terminaria com um time skip mostrando uma Shio já adolescente, cercada de garotos (como a Satou também era). Então ela vê uma criancinha de cabelo rosa, parecida com a Satou, e sente o desejo aflorar. Talvez seu canino exposto ficasse até mais evidente. E aí nós saberíamos que ela virou uma nova Satou, para uma Shio de outra geração.Aliás, esse é o vício do Humbert Humbert, protagonista de Lolita, se bem me lembro. Ele teve uma namorada na adolescência que morreu tragicamente e “busca” ela no corpo de outras garotas.
- Fábio “Mexicano”
Quase tudo o que a gente diz que é “defeito” deixa de ser se falarmos que o anime é uma história de terror e a Satou na verdade é uma entidade maligna que sempre vai assistir. E a crítica social que o anime porventura tenha não desaparece. - Diego
Não apenas não desaparece, como se torna bem mais forte. - Vinicius Marino
Não à toa, ele está listado como “terror” no My Anime List.(Entre outras coisas, claro) - Fábio “Mexicano”
Pois é, mas acho que ninguém assistiu como anime de terror. E até seu visual, os enquadramentos, as expressões faciais, é tudo obviamente linguagem de terror. Será que muita gente “assistiu errado”? Se sim, por quê? - Diego
Tinha gente legitimamente torcendo pra Shio e a Satou ficarem juntas. Não é uma questão de “será”: tinha gente assistindo errado e ponto final - Vinicius Marino
Até aí, muita gente assiste filme de terror e torce pro monstro. Carrie é o maior exemplo.Assisti ao último reboot no cinema. A galera levantava e aplaudia em pé a cada morte - Fábio “Mexicano”
Mas pelo menos sabem que é terror.Eu assisti o remaster de O Exorcista com meus amigos e a gente tava vibrando também - Vinicius Marino
Acho que na nossa época terror ficou um tanto estigmatizado pelo jumpscare (pense Five Nights at Freddy’s) e aquela praga do “seinen psicológico”. Basicamente, se não está tudo escuro, desbotado e não tem gore o pessoal associa a outra coisa.O que é uma injustiça ao próprio gênero. Muitos clássicos de terror iam por vertentes totalmente diferentes. Os filmes do Hitchcock não tinham medo de apelar ao humor. O Homem de Palha (1973), meu terror favorito, é um musical todo colorido! - Fábio “Mexicano”
E não esqueça do gorefest, estilo Another e Higurashi. - Vinicius Marino
Tem esse também! Faz tanto tempo que não vejo um que já tinha esquecido. - Fábio “Mexicano”
Teve o excelente (ao contrário) Ousama Game ano passado. - Gato de Ulthar
Eu particularmente não vi o anime como terror, estava mais para uma aventura de suspense eletrizante, mas entendo perfeitamente os motivos de classificarem o anime como tal. E falando francamente, a Shio não estaria bem com ninguém do enredo que cruzou o caminho dela, talvez, e nem tenho certeza, o irmão seria uma boa opção. - Vinicius Marino
Vamos falar então do clímax em si? Não vou dizer que foi mais impactante que a morte da Shouko, mas foi sem dúvida o que mais me deixou desconfortável nesses dois últimos episódios.O salto do prédio em chamas em si foi um exemplo de shinjuu (suicídio duplo), um trope comum da ficção japonesa. Não sei quanto a vocês, mas ver a Satou e a Shio caindo foi para mim bastante desconcertante. Nem tanto pela morte, mas pelo tom com que revivemos aquelas memórias de sua vida em conjunto. Era como se o anime quisesse nos emocionar com sua história de amor. - Diego
Eu acredito que a intenção era passar um sentimento de tragédia, não realmente pelo “amor impossível” da Satou com a Shio, mas sim por toda a situação que levou até aquele momento, a história de vida das duas, os problemas familiares de cada uma, e por ai vai.Uma sensação de que as coisas não precisavam terminar daquela forma, mas terminaram por conta de uma longa cadeia de abusos e erros que, pra jogar sal na ferida, ainda devem continuar com a própria Shio. - Fábio “Mexicano”
Suicídio duplo é um tropo comum de amor trágico, que não se pode realizar. Então sim, o anime quis transmitir exatamente esse sentimento – por isso que exibiu tanto flashbacks quanto cenas de um futuro especulativo. Depois ficamos sabendo que aquilo tudo era imaginação da Satou, e não o enquadramento do próprio anime acerca da situação. - Gato de Ulthar
Falando de suicídio duplo e do criativo uso de elementos gráficos diferenciados em Happy Sugar Life, os quais ajudam a criar a atmosfera buscada, lembrei de um filme bastante icônico, Double Suicide, do diretor Masahiro Shinoda, de 1969, baseado em uma peça de 1721 de Monzaemon Shikamatsu, e que conforme o próprio nome diz, gira em torno de um suicídio duplo de um casal.O diferencial deste filme é que ele usa atores vivos controlados por marionetistas, como se fosse o clássico teatro de marionetes bunraku, para proporcionar uma visão fatalista do amor e da esperança e que os seres humanos são fantoches do destino. Mas talvez uma conquista ainda maior no filme seja a forma como apresenta uma mistura perfeita de artificial e humano. E Happy Sugar Life também brinca com essas questões, utilizando elementos não humanos, como potes quebrados e doces, para fazer uma analogia aos sentimentos dos personagens. - Fábio “Mexicano”
Peça de 1721? Com um pouco de sorte estamos falando de um dos codificadores do tropo… - Gato de Ulthar
É possível. E no Ocidente temos Shakespeare com Romeu e Julieta, que é do século XVI. - Fábio “Mexicano”
Que foi acidental Mas o conceito de amor impossível é similar, simSe não me engano o termo em inglês para isso, “star crossed lovers“, foi criado por Shakespeare, justamente em Romeu e Julieta - Diego
Romeu e Julieta não era baseado num conto folclórico da época, este baseado num mito ainda mais antigo? Ou qualquer coisa do tipo?Porque a história em si de amores impossíveis, da pra gente voltar até bem longe da mitologia, do pouco que me lembro. - Fábio “Mexicano”
Sim, o amor impossível em si é provavelmente tão antigo quanto a civilização. Falei do termo em inglês, de uso corrente. - Gato de Ulthar
E só para constar, em japonês há um termo para suicídio duplo, Shinjū, o que já foi mencionado acho, mas o curioso é que esse termo foi cunhado a partir da peça que eu citei acima, de 1791, Shinjū Ten no Amijima (The Love Suicides at Amijima).Então essa peça deve realmente ter marcado o início da popularidade deste tropo no Japão.E no caso específico do Japão, há a questão do budismo, especialmente do budismo Terra-Pura, e nessa corrente, amantes, casais e etc, podem renascer juntos na próxima reencarnação, ou no paraíso, se tiverem vencido o ciclo de reencarnações, ainda mais quando morrem juntos.
- Fábio “Mexicano”
Provavelmente também já era algo popular, mas a peça em questão codificou, na ficção, e no geral popularizou ainda mais o conceito, agora moldado segundo o que se viu na peça.Acho que o que diferencia o shinjuu do star-crossed lovers é que, bem, o shinjuu é de fato insolvível. É suicídio, morte. Para o simples amor impossível ocidental há várias soluções menos trágicas, e que se tornaram bastante populares na cultura.Veja que, de certa forma, Satou tentou salvar Shio. Mas foi inútil, em vão, pois ela ainda vive, como uma maldição, dentro de Shio. E o ciclo de tragédias vai continuar.
- Diego
Vai continuar em grande medida porque não devem existir psicólogos nesse universo - Fábio “Mexicano”
Por tudo o que eu sei de fato a saúde mental é desprezada no Japão, e na ficção em geral, em animes e mangás muito em particular, psicologia é uma área de pesquisa que simplesmente não existe. - Vinicius Marino
Vi algumas pessoas dizendo que a Satou “virou” no meio da queda, usando seu próprio corpo para proteger a Shio. Confesso que estava tão atormentado que não reparei nisso. Vocês repararam? - Fábio “Mexicano”
Não lembro agora se virou, mas com certeza protegeu Shio. Ela é muito maior, óbvio, ela se abraçou a garotinha e acho que no momento final a deixou por cimaCom certeza notei a intenção, e sabendo disso tinha certeza que a Shio iria sobreviver. Porque ficção. - Diego
Eu notei. Só não tinha certeza que tinha funcionado até ver a Shio viva no hospital. - Vinicius Marino
Bom, falamos de muita coisa! Acho que podemos ir fechando por aqui então.Comentários finais sobre Happy Sugar Life? - Fábio “Mexicano”
Um dos melhores animes do ano. Com a temporada final terrível que já começou, ele não perde esse posto. E a cena do assassinato da Shouko é uma que vai me acompanhar para sempre. - Diego
Certamente uma experiência diferente pra mim. É um desses animes que eu teria completamente ignorado se não fosse pelo Café. A cena da Shouko de fato foi o ponto alto, mas é uma produção bastante sólida de maneira geral, e fico feliz de ter acompanhando. - Fábio “Mexicano”
Acho que podemos dizer que aquela cena foi… Shoukante? - Diego
Todos a favor de deixarmos o Fábio de castigo no cantinho durante o próximo Café levantem a mão o/ - Vinicius Marino
Podemos deixar ele de castigo na casa da tia da Satou. Pensando bem não, seria cruel demais - Fábio “Mexicano”
Ainda bem que ela foi presa - Diego
Falando em preso, como exatamente a policia chegou até o professor? 😛 - Vinicius Marino
Não faço ideia. Talvez o mangá tenha dado alguma pista? Não cheguei a ler esse desenlace final. Nem sei se já foi escrito, aliás. - Fábio “Mexicano”
Não que eu me importe também. Ele era um pedófilo abusador e foi preso. Estou feliz com isso. - Gato de Ulthar
Chegando atrasado, também penso que Happy Sugar Life foi um ótimo anime. E a cena da morte da Shouko foi realmente Shoukante! Vai facilmente para a lista de maiores mortes dos animes dos últimos tempos. - Vinicius Marino
Concordo com tudo o que vocês disseram. Para mim, hospedar essa discussão de Happy Sugar Life foi uma grande aposta. Mesmo tendo lido parte do mangá, não fazia a mínima ideia se a história seria concluída de uma forma satisfatória, se a transição às telas traduziria bem sua loucura – e, mais importante, se eu próprio estava gostando do que via.O resultado foi uma surpresa das mais agradáveis, com uma cena em especial que entrará para os cânones do anime contemporâneo. E tudo isso foi muito mais legal com a participação de vocês aqui.Assim, agradeço a todos que participaram, comentaram e se arrepiaram aqui com a gente. E até o próximo Café com Anime!
[/arrow]
Últimos comentários