Bem vindo ao Café com Anime, sua dose semanal de bom papo e animação japonesa!
Nessa temporada, o Finisgeekis, Anime21, Dissidência Pop e É Só um Desenho discutem Happy Sugar Life.
O anime nunca foi um programa leve, mas nessa semana ele se superou. Happy Sugar Life chega ao seu primeiro episódio verdadeiramente chocante – com uma execução primorosa e um final de doer o coração.
Confiram:
- Vinicius Marino
Estou tentando mensurar o quão depravada a tia da Satou é. Será que vocês podem me ajudar?
Vejamos, ela é uma masoquista submissa. E não do jeito saudável, BDSM. Ela sente tesão em se auto-destruir, colocando-se em situações degradantes que bem podem comprometer sua integridade física e mental.
Ela se esfregou contra um policial, em um mundo em que desacato à autoridade aparentemente não existe (quem dirá assédio sexual).
Ela inspirou na Satou a coisa mais parecida com “medo” que vimos até agora.
E, se não fosse o bastante, ela está viva, morando ao lado da protagonista!
Esqueci de alguma coisa? - Gato de Ulthar
O Vinicius acompanha o mangá, não sei o seu nível de surpresa, mas por esta eu não esperava, foi de longe meu episódio favorito. Quem diria que a Satou tinha um plano de contingência?
O episódio começa com o que parece um flashback da Satou matando a tia, mas não passou de um devaneio do depravado do professor, essa foi a primeira pequena surpresa do episódio. Ver os os policiais na porta foi algo incrível.
Eu realmente não esperava que a tia morasse em outro apartamento e que ela só atendesse a porta com um toque em específico da Satou, isso a livrou de uma grande enrascada, conseguiu se desvincilhar momentaneamente da amiga intrometida e do professor perturbado.
E a cena com o policial, uau! Foi algo incrível, fiquei sem palavras. - Vinicius Marino
De fato, quando li essa parte no mangá a achei uma das, senão A mais surpreendente reviravolta da história. Demorei até para fechar a cabeça em torno disso.
Para mim estava tão claro que a tia da Satou tinha sido morta que comecei a cogitar absurdos. Por exemplo, que aquilo era um sonho, ou que toda a existência da Shio tinha sido um delírio. Ou então que aquela não era a tia da Satou de verdade, mas uma atriz, alguém fingindo ser sua parente. - Diego
Em primeiro lugar: eu tive de me contar pra não rir alto na cena da tia literalmente se jogando pro policial Deve ter sido um dos momentos mais trash do anime até aqui, e só consigo imaginar a policial feminina parada lá olhando a coisa rolar enquanto a tia só faltava arrancar a roupa do parceiro. Mas bom, eu já estou surpreso com o fato de que existe polícia nesse mundo, acho que posso aceitar que não exista desacato a autoridade
Quanto à tia em si, numa escala que vai de “leu 50 tons de cinza e agora se acha praticamente de BDSM” até “precisa de internação psiquiátrica urgente” a mulher claramente está no segundo grupo. Mas bem, agora faz sentido os flashbacks da Satou.
E nossa, o final do episódio conseguiu ser trágico na medida certa. No fim a amiga não consegue lidar com tudo aquilo, e a Satou termina afirmando que não sabe o que “amigo” significa. - Fábio “Mexicano”
Passou pela minha cabeça que a Shio poderia ser um delírio da Satou também. Me desvencilhei da ideia rápido, porém, porque outras pessoas já viram a menina – e no tempo presente. Bom, ok, a tia dela está viva, faz sentido, eu nunca pensei que ela tivesse matado a tia mesmo, sempre tive para mim que ela invadiu outro apartamento para isso. Acho que ela deu a entender isso quando falou sobre uns episódios atrás.
A parte de levar a Shoko lá foi o ponto alto do episódio. Os policiais foram coadjuvantes para a Shoko testemunhar em primeira mão toda a depravação da tia da Satou. Acredito que era o que a Satou queria desde o começo. Não é que ela tenha medo de revelar que está morando com a Shio. Bom, ela é louca mas não é burra, tem isso também, mas não acho que seja o mais importante.
A Shoko disse que queria conhecer melhor a Satou, então que forma melhor de fazer isso do que a apresentando para a pessoa que a criou? A gente às vezes reluta a reconhecer, demora a perceber, mas temos em nós muito de nossos pais, o que inclui muito especialmente seus vícios e defeitos. A Satou não é masoquista, mas creio que já sabemos muito bem de quem ela aprendeu aquela lábia sedutora e assustadora, não é?
E provavelmente isso já foi problema para a Satou no passado. Talvez mais traumatizante do que ter uma tia louca, tenha sido ser rejeitada pelos outros por causa disso. Ela não só nunca aprendeu o que é o amor romântico ou o amor parental, como ela nunca aprendeu o que é o amor de amigo também. Ela nunca conheceu nenhuma forma de afeto. Sempre que alguém chegou muito perto dela, viu sua tia – literalmente ou metaforicamente – e se afastou.
A Shoko, racionalmente, queria abraçar a Satou. Emocionalmente aquilo foi pesado demais para ela. - Vinicius Marino
Falando em lábia sedutora, eu preciso compartilhar com vocês um detalhe que por muito pouco não deixei passar.
Da primeira vez que vi aquele “quarto do fedor” fiquei coçando a cabeça me perguntando que diabos era aquilo. A primeira coisa que me veio à mente foi uma espécie de cativeiro para a Satou. Afinal, tem só uma cama.
Mas aí vi todos esses papéis higiênicos descartados e me lembrei que, em animes e mangás, isto geralmente é indício de sexo. Aparentemente, no Japão é costume limpar os fluidos com papel (e largá-los por aí) em vez de, sei lá, tomar uma ducha.
Enfim, nós vemos isso em Oyasumi Punpun, que mostra uma garota se limpando depois do coito. E também em Okusama wa Mahou Shoujo, em que a mera presença de um papel higiênico amassado já faz uma personagem entender que alguém transou naquele ambiente.
Ou seja, aparentemente aquilo era um quarto do sexo. E nem vou falar do tipo de pessoa que aceitava entrar com ela naquele lugar, dado seu fedor e aparência…
Isso torna essa outra cena muito mais perturbadora. Satou aparentemente flagrou sua tia durante uma transa degradante. O ursinho de pelúcia rasgado é um símbolo óbvio (e já bastante batido) dessa perda de inocência.
Mas o pior é o contexto em que ela aparece. Da forma como o anime mostra, é como se a tia estivesse falando diretamente para a Satou!
Eu sei que monólogos de anime não são lá muito confiáveis. Às vezes, não passam de info dumps convenientes. Mas vocês não tiveram a impressão de que ela estava se oferecendo para a sobrinha?
Será que a Satou foi diretamente abusada pela tia nesse contexto? Ou, sei lá, induzida a participar (mesmo como espectadora) das suas perversões? - Fábio “Mexicano”
Eu tive essa impressão também. Quero dizer, no começo do anime eu já achava que a Satou tivesse sido abusada sexualmente, depois passei a acreditar que ela tivesse sido “apenas” espancada, e agora acho que não é nem um nem outro, propriamente.
A tia é bastante insistente, mas não chega a forçar o policial a fazer algo. Ela quer que ele faça algo, mas quer que ele escolha o que fazer. Qualquer coisa. Se para um adulto é desconcertante passar por isso, para uma criança deve ser simplesmente um pesadelo.
No fim das contas, a tia só quer “receber” amor, de qualquer forma, tipo e tamanho. Mas ela não oferece nada. Assim, se a Satou e ela fizeram alguma coisa eu não sei, mas eu sei que, o que quer que possa ter acontecido, foi só a tia recebendo.
Eu tinha isso em mente também quando escrevi, antes, que a Satou não conheceu nenhuma forma de amor. A sua tia é um buraco negro de “afeto”. - Vinicius Marino
Isso dá um aspecto bem mais assombroso a tomadas como essa, não acha? Eis o buraco negro, e Shio perdida, desesperada em seu centro.
- Fábio “Mexicano”
O caso da Shio foi diferente, mas sim, o anime pode estar tentando traçar paralelos. Aliás, a Satou é super melosa com a Shio, cuidadosa, carinhosa. Provavelmente é para “ser diferente” da tia também. Eu imagino como foram as primeiras experiências românticas dela. - Gato de Ulthar
Também me parece super provável que a Satou tenha sido abusada, não digo fisicamente e diretamente, a tia dela não a forçaria a nada, mas isso não que dizer que o seu jeito manipulador não seja igualmente convincente do que uma ameaça física. - Fábio “Mexicano”
Principalmente para uma criança. A Shoko já é bem crescidinha e ficou bastante abalada só de ASSISTIR isso. - Gato de Ulthar
Imagino a tia dela a convencendo a participar de seus fetiches absurdos com outras pessoas. É um cenário desolador. Mas ao invés de ficar como a tia, a Satou criou um ressentimento gigantesco em relação à ela quando descobriu que havia formas de amor mais sadias. Contudo, o problema da Satou foi criar na sua cabeça uma forma de amor tão ou mais pervertida do que da sua tia. - Vinicius Marino
E me digam agora: como vocês acham que a situação chegou a esse nível?
Digo, a tia da Satou não parece trabalhar. Vive trancafiada em casa e abre a porta apenas para a Satou. Com um sinal super secreto, que dá a entender que ela (ou a sobrinha, ou ambas) não quer ver o mundo exterior. Parece que a mesa virou: ela, agora, é que depende da sobrinha. E a sobrinha a parece usá-la de cortina de fumaça. - Gato de Ulthar
Não duvido que a Satou sustente a tia com parte de seu salário, e francamente, não me parece que a tia demande grandes gastos para viver naquele ambiente degradante. Pode ser também que ela receba uma pensão, sei lá.
Também não duvido que a tia não saiba sobre a Shio, penso que ela acobertaria numa boa essa relação doentia, pelo fato dela já ser uma pessoa severamente perturbada, pode até achar prazeroso observar a obsessão da Satou pela menina. - Diego
No que se refere a questões de “como a tia da Satou se sustenta?”, acho que podemos colocar ela na pilha de outras questões que é melhor não pensar muito a respeito, tipo como ninguém sente falta do cara que habitava o apartamento onde a Satou vive ou como ninguém parece se importar com abuso infantil nesse mundo.
Agora, sobre como a tia ficou daquele jeito, acho possível o anime (ou talvez o mangá…) abordar isso mais pra frente. - Fábio “Mexicano”
Talvez houvesse um “tio” até algum momento de sua vida. Talvez a família a sustente secretamente para mantê-la afastada. Talvez ela se prostituísse. - Vinicius Marino
Mas vocês acham que essa “tia” é biológica? Ou apenas uma oba-san genérica (no sentido de “madame” ou “senhora”)? Se olharmos no ending, Satou começa andando sozinha, até que uns espinheiros surgem e vemos uma foto dela com a tia.
Será que a situação dela não foi parecida com a da Shio, no final das contas? - Gato de Ulthar
Eita! Eu não tinha pensado nessa possibilidade, mas não é de toda impossível. Mas fico curioso em pensar como a Tia foi bem sucedida de não ter sido capturada nem descoberta! - Diego
Também nem tinha me ocorrido que a tia poderia não ser a tia biológica. Mas acho as suas fisicamente parecidas o bastante para que sejam sim parentes de sangue. - Fábio “Mexicano”
Talvez seja parente, mas não foi a primeira a ficar com a Satou criança. Já vimos isso em outros animes e mangás, não? Os pais morrem e nenhum parente quer assumir as crianças, que ficam pulando de casa em casa. Até que ela acabou indo pra casa da tia louca que ninguém nem queria lembrar que existia.
Não estou apostando que seja isso, só colocando uma hipótese a mais para apreciação. Realmente não sei qual pode ser a relação entre elas, e nem sei se, anos depois, isso ainda é importante. - Vinicius Marino
E acho que com isso cobrimos tudo o que tinha para cobrir não? Foi um episódio surpreendentemente auto-contido. A bola agora está na quadra da Shoko. O que será que ela vai fazer? Saberemos amanhã!
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