Bem vindo ao Café com Anime, sua dose semanal de bom papo e animação japonesa!
Nessa temporada, o Finisgeekis, Anime21, Dissidência Pop e É Só um Desenho discutem Happy Sugar Life.
Eu nunca imaginei que diria isso, mas Happy Sugar Life está se mostrando um dos animes mais lindos da temporada. Duvida? Confira aqui embaixo que nós explicamos.
- Vinicius Marino
Então, vocês conhecem aquela expressão “cair da frigideira direto para o fogo”?
Parece que a Shio a experimentou em primeira mão.
Aliás….
Acho que no caso é menos “fogo” que um poço infinito de lava - Fábio “Mexicano”
E piora, né? Digo, o cara é espancado no final e vai saber o que aqueles moleques não podem pensar em fazer com a garotinha depois?
Mas eu ainda não sei como me sinto em relação a esse episódio
Eu estava torcendo pela Satou, mas isso não parece certo. Ela é, afinal de contas, uma assassina, sequestradora e pedófila. Por alinhamento dos astros isso está sendo melhor para a Shio do que a situação que ela vivia antes (sua mãe fugiu com ela de casa por causa de um pai violento e depois … a mãe foi morta?).
O Taiyou aí tecnicamente não é nada diferente da Satou. Bom, ele se torna diferente quando começa a desejar tocar, ele próprio, na Shio, e a gente sabe como isso é só a porta de entrada para drogas mais pesadas. Mas qual a razão objetiva para ele ser assim e a Satou não? Ela é uma pessoa horrível que o anime escolhe retratar como o mal menor. - Gato de Ulthar
Até eu, que sou acostumado com esse tipo de obra, estou com dificuldade para processar Happy Sugar Life.
O anime não é apenas uma sequência desenfreada do que temos de pior nos seres humanos, mas também uma enxurrada de ações extremas que se sobrepõe, que inclusive nos faz torcer pela Satou, mesmo sabendo que ela também é uma pessoa podre.
Isso ocorre por termos a consciência de que pelo menos com a Satou, a menina manterá sua integridade física, mesmo que essa tênue segurança possa desaparecer a qualquer instante.
Eu realmente não esperava o que ocorreu neste episódio, fiquei surpreso de verdade com esse show de extremos que é Happy Sugar Life. - Vinicius Marino
Não me espanta que Happy Sugar Life nos faça torcer pela Satou. Tanto neste aspecto quanto no “amadorismo” da Satou que comentamos semana passada o anime me lembra bastante Breaking Bad.
Breaking Bad dispensa apresentações, mas para aqueles que passaram a última década debaixo de uma pedra vai aqui um primer: a série fala sobre um professor de química que é diagnosticado com câncer terminal e decide produzir metanfetamina. Não por maldade, mas porque ele quer deixar um pé de meia para o filho e não tem muito tempo de vida.
Na medida em que a série progride, ele desce cada vez mais no abismo do crime, até um ponto que se transforma em um verdadeiro Scarface. Na primeira temporada, ele é um bobão metido a bandido que causa mais dano a si mesmo que aos outros. Nas últimas, já está envenenando crianças e cometendo terrorismo doméstico.
Um dos maiores apelos da série é nos fazer torcer por ele, mesmo sabendo que está errado. E não se trata de relativizar o mal. Breaking Bad nunca coloca suas ações sob uma luz positiva, e ele paga (com juros) por toda a maldade que faz. Mas a personagem é tão fascinante, e a trama, tão bem construída, que nós vibramos com cada um de seus sucessos.
Outra coisa em comum é o uso de flashforwards, uma marca registrada da série. Happy Sugar Life começou com uma casa em chamas e um suposto duplo suicídio. Cada temporada de Breaking Bad começa com uma cena do fim, geralmente uma hecatombe dramática, com prédios em ruínas, gangues chacinadas e acidentes aéreos. Então nos joga de volta para o começo, e vemos como que as coisas deterioraram até chegar àquele ponto. - Diego
Vou dizer que as conveniências desse episódio me incomodaram, e não foi pouco. A começar pela da Shio decidir deixar o apartamento. Digo, a Satou estava 15 minutos atrasada e a menina resolver sair correndo procurar por ela!
Isso poderia ser perfeitamente compreensível se não tivéssemos passado o primeiro episódio com a Satou chegando tão tarde que a Shio já estava dormindo. O que fez a menina pensar que dessa vez era diferente exceto “plot”?!
E ai temos ela coincidentemente encontrando o Taiyou após ser “guiada” por uma alucinação, e ainda mais ao final temos a Gangue Do Parquinho™ de volta pra meter o soco no Taiyou antes que ele pudesse levar a Shio. Francamente: foi um show de bullshit que me perdeu literalmente nos primeiros minutos do episódio e não fez questão nenhuma de me trazer de volta depois.
Porém, ele teve algumas coisas bem interessantes, de fato. Em especial eu gostei de como a Satou reconheceu que perdeu o controle. Eu esperava ela ser interrompida, mas ela mesma parar e reavaliar a situação foi bem interessante em termos de caracterização da personagem. E ai temos ela toda saltitante por estar com ciúmes…
De fato, o anime nos faz sentir certa simpatia pela Satou, e eu suspeito que isso só vai aumentar se e quando soubermos mais do seu passado. Personagens moralmente questionáveis não são realmente nenhuma novidade mesmo dentre os animes (oi, Light), mas a Satou certamente encarna muito bem o seu papel.
E numa nota: eu literalmente não tinha espaço o suficiente no meu quarto para colocar a cadeira mais para trás, tão desconfortável eu estava com todo o monólogo do Taiyou no parque - Fábio “Mexicano”
A Gangue do Parquinho™ é aceitável, vai? O Taiyou que foi um demente por retornar ao mesmo parque em que havia tretado com os malucos mais cedo naquele dia.
A Satou não é “moralmente questionável”. Isso se aplica ao protagonista de Breaking Bad, como bem comparou o Vinicius: ele faz o mal por bons motivos. Não podemos dizer o mesmo da Satou. No máximo é o que já dissemos antes: ela é o mal menor para a Shio do qual temos conhecimento no momento. Satou é moralmente condenável mesmo. - Diego
Sim, o pessoal do parquinho foi dos males o menor. Mas na sequência de todas as demais coincidências acabaram adicionando E é, boa correção, a Satou é condenável mesmo. - Fábio “Mexicano”
Sobre coincidências, acho que cabe o que temos falado em todas as sessões de Banana Fish: é uma ferramenta narrativa pra acelerar a história e focar no que realmente interessa. Eu fiquei com o coração na boca o episódio inteiro, então eu acho que está funcionando, coincidência em excesso ou não. - Diego
Eu não costumo ter problemas com coincidências, e inclusive acho exageradas muitas das críticas que usam delas como argumento. Porém, a coisa se torna um pouquinho mais complicada quando elas são muitas e, acima de tudo, quando não fazem sentido nenhum. Como a Shio decidindo sair porque sim. Acho que isso foi o que mais me incomodou no episódio inteiro (bom, ok, não, o Taiyou foi pior, mas esse era o ponto da cena ) - Fábio “Mexicano”
Ela é uma criança muito nova (uma toddler, gosto das várias palavras que o inglês tem para crianças de acordo com a idade e que não tem equivalente exato em português), não exija coerência justamente dela.(editado) - Vinicius Marino
Eu não vejo nada de errado com a Shio resolvendo sair do apartamento. A gente não sabe exatamente qual é o nível de comunicação delas. Talvez a Satou sempre avise quando vai se atrasar. Talvez a Shio tenha entendido que naquele dia específico ela chegaria mais cedo. Talvez ela tenha sempre desejado abrir a porta, mas só naquele dia teve coragem de girar a maçaneta.
E mesmo que ela tenha agido diferente no passado, o que isso significa? Não é porque uma criança foi “obediente” num dia que ela o será no outro. Quando eu tinha 5 anos de idade, eu brincava na quadra o tempo todo. Bastou uma vez para eu resolver escalar o alambrado, o que me fez cair e quebrar a perna.
A “conveniência” que o anime de fato abusa, na minha opinião, é o sexto sentido das personagens. Praticamente todo mundo têm seu “sentido aranha” que avisa quando o enredo está se desenrolando ao lado.
Mas isto é tão obviamente um efeito estilístico que não vejo como ficar nervoso com ele. Para mim, é uma representação da paranoia dessas pessoas. Viva o tempo todo com medo e você também começará a ver vilões escondidos nas sombras. - Gato de Ulthar
Eu achei perfeitamente natural a Shio ter escapado, pois não podemos esperar obediência irrestrita de uma criança tão pequena, ainda mais quando ela alucina com o seu passado, curto mas cheio de acontecimentos terríveis.
Essa foi uma bola fora da Satou, está certo que ela confiava plenamente na obediência e amor da menina, mas devia ter ser certificado de que a porta não se abriria por dentro pela menina, talvez colocando mais uma fechadura, ou algo do gênero.
Quanto ao tema das conveniências. Isso não é um problema, a ficção está cheia delas, e isto nunca impediu de uma obra ser boa. Charles Dickens era o rei das coincidências novelescas, mas os seus livros são lembrados até hoje como uma literatura de alta qualidade. O mesmo com Dostoiévski, por exemplo.
O problema reside quando a obra em si, no caso o anime, não possui substância que faça ser interessante, mas ai é culpa do enredo e da produção, não do fato de haver coincidências no enredo. - Fábio “Mexicano”
Superada a questão da suposta conveniência, porém, o que eu realmente quero saber agora é qual a diferença fundamental entre a Satou e o Taiyou. Por que ele é tão mais pervertido do que ela? Terá a ver apenas com a idade em que sofreram os abusos? Ou é porque ele é homem? Alguma outra razão? - Vinicius Marino
Agora, tem um detalhe que esquecemos, né? Shio não saiu exatamente por decisão própria. Ela foi “persuadida” por aquela presença estranha das suas lembranças.
Tivemos muitas pistas nesse episódio sobre a identidade dessa pessoa. Nós havíamos suposto ser a mãe, mas será mesmo? Ela aparentemente fugiu com a Shio da casa que dividia com o irmão para escapar do abuso do pai. Não sei quanto a vocês, mas a mim me parece mais uma irmã mais velha. Sobretudo porque ela é, bom, pequena.
Hipóteses? Pensamentos? Pedidos para sair? - Fábio “Mexicano”
Pode ser irmã mais velha também. Daí é “mais fácil” entender porque ela fugiu só com a Shio e porque aparentemente não tinha onde cair morta (quero dizer, aparentemente isso ela teve sim …) - Gato de Ulthar
Há muita coisa para descobrirmos ainda, mas o fundamental já sabemos, a Shio só se mete em enrascada, que menina azarada. O que aconteceu com essa mulher misteriosa? Será que a Satou pegou a Shio dela? Será que a moça abandonou a menina em algum lugar ou instituição? Não sabemos nem de onde a Satou tirou a menina no final das contas. - Diego
Talvez essa mulher seja que a Satou matou para pegar o apartamento? Pouco provável, já que a Satou parece mesmo ter achado a Shio literalmente jogada por ai, mas vai que né - Fábio “Mexicano”
O apartamento é caro e ela fugiu de casa com uma mão na frente e outra atrás. Os sacos sangrentos também indicam que morava lá mais de uma pessoa. - Diego
Eu fico pensando se realmente morava mais de uma pessoa. São muitos sacos, mas são todos (3? 4? Não lembro direito o número) relativamente pequenos. Pode ter sido uma só pessoa que a Satou esquartejou. Isso inclusive faria mais sentido: matar uma pessoa só chamaria bem menos atenção do que matar uma família inteira. - Fábio “Mexicano”
Dá pra socar uma pessoa bem socadinha se você picotar ela direitinho - Vinicius Marino
Olha, uma vez, no terceiro colegial, eu dissequei um porco. Nosso professor apareceu com todos os órgãos internos do bicho e a gente passou a aula abrindo-os com bisturi.
Porcos são muito parecidos com gente (inclusive no tamanho). Aliás, ao ver aqueles órgãos ali, eu pensei num primeiro momento que ele havia trazido um corpo de verdade! Mas enfim, só trago isso para dizer que tinha muito órgão ali. Eram necessárias umas duas ou três bandejas grandes para acomodar tudo. E isso eram só os órgãos, sem falar dos ossos e músculos!
O que me leva a crer que os sacos podem, sim, conter o corpo de uma única pessoa. Ainda mais considerando que a Satou não é exatamente uma exímia açougueira.
Err… isso ficou meio mórbido, né? Bom, antes que me acusem de ser um psicopata, deixa eu falar de uma coisa mais agradável que também queria comentar. Não sei qual é a opinião de vocês, mas achei Happy Sugar Life um anime muito bonito.
Sei que esse não é um adjetivo que costumamos usar com histórias desse tipo. Mas estou falando de beleza visual, mesmo. Mais do que isso: de sofisticação. Tipo o chiado cobrindo a mãe/irmã da Shio:
Ou os muitos recursos gráficos para representar figurativamente o trauma.
Muitas séries falam do trauma físico, real. Happy Sugar Life quase não mostra isso. Se pararmos para pensar, o trauma acontece todo na cabeça das personagens. E é graças a esses recursos que ele nos salta aos olhos. - Gato de Ulthar
Quanto aos aspectos visuais o anime está de parabéns. É interessantíssimo ver quando uma peça de ficção utiliza todos esses simbolismos para representar a loucura que as personagens vivem, os redemoinhos em suas mentes e coisas do gênero. Gosto particularmente quando a Satou alucina com o seu lindo sonho “doce” com a Shio, é gosto mas perturbador de se ver. - Vinicius Marino
Que, por sinal, é a opening inteira, né? Aliás, que opening medonha! No começo, parecia uma coisa fofa com alguns traços de “yanderismo”. Mas quanto mais eu presto atenção, mas percebo que tudo nele é uma metáfora ao abuso sexual!
- Fábio “Mexicano”
E é interessante como o trauma se manifesta de uma forma diferente para cada uma delas. A Shio vê ou sente tudo girando, como se fosse algo além do seu controle e ela estivesse perdida. A Satou sente gosto amargo na boca, o que … bom, vou apenas dizer que pode ter a ver com “memórias”. - Vinicius Marino
E será que a Satou continuará um torrão de açúcar, ou algo além de sua consciência irá amargar em breve? Acho que veremos no próximo capítulo!
Até lá!
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