Bem vindo ao Café com Anime, sua dose semanal de bom papo e animação japonesa!
Nessa temporada, o Finisgeekis, Anime21, Dissidência Pop e É Só um Desenho discutem Happy Sugar Life.
Um professor predador. Um colega de trabalho traumatizado que parece nutrir uma obsessão doentia por crianças. Um garoto misterioso… que pode colocar tudo a perder. Será que há alguém no mundo de Satou que não seja uma ameaça?
Confiram abaixo:
- Vinicius Marino
Happy Sugar Life é uma série terapêutica. Se você já teve a sensação de estar sendo perseguido, de se ver perdido em um formigueiro humano de maldade, basta viver 25 minutos nos pés da Satou para perceber que demos sorte.
E isso inclui a própria Satou, claro. Erguer um pé de cabra para matar um moleque espancado? Enquanto que seus amigos – que o resgataram! -estão próximos a voltar? Parem o mundo que eu quero descer! - Gato de Ulthar
Levando em conta o que eu estou acostumado a assistir e ler, poucas coisas ainda me surpreendem, e uma delas foi esse segundo episódio de Happy Sugar Life.
Como a Satou pode reunir em sua volta tanta gente doentia? Não sei nem por onde começar. Talvez pelo professor tarado ou talvez pelo carinha que foi abusado pela gerente mas que também é um pedófilo doente. - Diego
“Como a Satou pode reunir em sua volta tanta gente doentia?” É… é uma boa pergunta. Tudo bem: nós começamos esse anime avisados. Desde as expectativas o Vinicius já tinha deixado claro que todo mundo aqui é altamente perturbado.
Só tem um problema: cansa. E a mim cansou bem rápido. A tal ponto que eu estou só esperando pra ver qual a tara, trauma e/ou crime da amiga da Satou. Ou de praticamente todo personagem que aparece.
Por um lado, isso tem lá sua vantagem: faz o expectador se sentir nos pés da Satou, que também vê o mundo à sua volta com desconfiança. Por outro lado, é como eu disse: tamanha compilação de malucos por metro quadrado sem nenhum propósito maior do que entregar um “vilão da semana” para a Satou chutar, cansa.
Talvez isso não fosse tão ruim se a própria Satou fosse uma heroína mais tradicional, mas estamos falando de uma assassina e sequestradora. - Vinicius Marino
Eu não vejo dessa forma. Pelo contrário, acho que a perversidade na seria está por toda parte, mas é descrita com muito esmero.
Reparem que os “inimigos” da Satou, se posso chamá-los assim, são figuras bem especiais: a mãe que aparentemente a abusou (e que, a julgar pelos machucados, também foi abusada). A ex-chefe. O professor. São todas figuras de autoridade. Gente que adolescentes normais em circunstâncias normais tomariam como exemplo, mentores, pilares na vida.
Essa perversidade “in your face” logo nos primeiros episódios é, ao meu ver, uma forma de nos colocar nos pés da Satou. De passar uma sensação de paranoia, em que não podemos confiar em ninguém. De mostrar, enfim, que esse é um mundo em que adultos erram e traem. É um world building muito sutil e muito eficiente. - Fábio “Mexicano”
Tecnicamente, a Satou só confrontou dois personagens nesse anime até agora. Os dois adultos, e os dois figuras de autoridade, como bem lembrado.
O mundo da Satou não é apenas um mundo de pessoas perversas. Há vários tipos de pessoas nele, e ela reage a cada uma dessas pessoas de forma diferente. Ela nunca cogitou matar a ex-chefe ou o professor – e aposto que a maioria de nós adoraria vê-los mortos.
A Satou é uma assassina, aqueles pacotes em seu quarto secreto não negam. Mesmo assim, embora ela própria estivesse enojada desses adultos que não sabem se comportar como tais, embora ela tenha agredido o professor, a Satou nunca cogitou matá-los.
Matar é algo que ela reserva para outro tipo de pessoa. Ainda é um pouco cedo para dizer isso com certeza porque não sabemos quem eram os habitantes daquela casa, mas estou disposto a chutar que era uma família totalmente inocente. A Satou entrou lá e os matou porque ela “precisava” do apartamento, simples assim.
Há hierarquia na perversidade no mundo da Satou, e ela mata aqueles que estão abaixo dela – conquanto eles sejam obstáculos objetivos para sua eterna lua de mel com a Shio. - Vinicius Marino
Isso é o que eu acho o mais atraente na série. E é o que faz da Satou uma protagonista com que podemos nos reconhecer, a despeito de ser uma pessoa desprezível. Ela não é arbitrária na sua violência. Como outros serial killers e criminosos que inspiraram histórias de ficção, ela tem um “motivo”, por mais torpe que seja, e age de maneira calculista para cumpri-lo – até mesmo evitando danos colaterais quando possível.
Não faz sentido matar a ex-chefe ou o professor porque isso a colocaria na mira da polícia. O que, por sua vez, comprometeria seu futuro com a Shio. A sinopse do anime não mentiu: ela está, de fato, disposta a tudo para viver ao lado da Shio. E esse “tudo” envolve não apenas matar, chantagear e ameaçar, mas também se refrear de fazer essas coisas se as circunstâncias pedirem. - Gato de Ulthar
Eu vejo a Satou como uma pessoa extremamente pragmática. Mesmo que ela mate 200 pessoas ela não pode ser considerada uma assassina em série, ela apenas mata quem se interpõe no seu caminho, não sente nenhum prazer com isso e nem acha que é o seu dever. A situação aparece para Satou e ela resolve da melhor maneira que pode encontrar (melhor para ela, não para as vítimas).
Contudo, espero ela entrando em problema bem rápido, ela não é nenhum gênio do crime, como é demonstrado com a dificuldade dela de se livrar dos restos humanos. Ela iria simplesmente jogar a bolsa no rio! Hoje em dia é muito fácil descobrir um assassino quando se deixa tantos furos como a Satou vem fazendo.
Me pergunto como ela fará para lidar quando as cosias realmente esquentarem, quando ela tiver que fugir com a Shioi e correndo um risco verdadeiro e iminente de ser pega. Além disso, não duvido que ela se depare com pessoas realmente perigosas, como criminosos de carreira, Yakuzas, etc. - Vinicius Marino
Satou é o tipo de personagem que só faz sentido no Japão, onde a incidência de homicídio é tão pequena que crimes desse tipo são surpresa até para a polícia. Em qualquer lugar mais paranoico ela teria de ser bem mais criativa. Já imaginou o cheiro daquela bolsa? Só de cruzar com alguém na rua ela já corria o risco de receber uma denúncia.
“Genialidade” criminosa à parte, concordo que ela é bastante pragmática. E acho que isso é parte do apelo da personagem. Na minha resenha do mangá, comparei ela ao protagonista de Amor sem Fim, livro sobre um stalker maníaco que persegue a garota dos sonhos.
As ações do rapaz são claramente as de um doente. Mas, como o livro é narrado por ele, acabamos sendo convencidos pelas suas justificativas. Ele realmente acha que o que faz é certo, e que os percalços são ou acidentes ou conspirações daqueles que querem separá-lo de seu grande amor. - Diego
Embora eu concorde que ela seja pragmática, ao que tudo indica ela também não é imune a perder o controle, né? Afinal, o episódio termina com ela pegando um pé de cabra para matar o garoto ferido que seu colega de trabalho acabou de trazer para o local.
O que reforça também que ela não é nenhuma mestra do crime. Bom, não que eu ache que ela irá conseguir matá-lo: ou ela será interrompida pela chegada de seus colegas, ou então se dará conta de que aquilo é uma péssima ideia não importa como você veja. - Fábio “Mexicano”
Olha, eu ainda não duvido de uma reviravolta nesse caso. Não a vimos matar, afinal.
E ela certamente não é mestra em crimes: queria jogar restos cadavéricos em um córrego perto de sua casa Como já disseram antes de mim, aliás. Ela é geralmente corajosa, implacável, incapaz de sentir remorso e muito boa para enxergar através das pessoas. Mas não é necessariamente muito inteligente, e os traumas que a perseguem e o monstro que a habita não ajudam. - Gato de Ulthar
O modo de agir da Satou é facilitado por ser japonesa! E sabemos que os japoneses não são de se meter na vida dos outros, nem de ficarem reparando no que os estranhos fazem. Isso dá uma cobertura para ela, mas não é algo que dê uma segurança duradoura. Também fico pensando se caso a polícia se envolva no caso. - Vinicius Marino
Olha, não vou dizer que não há um charme em assistir séries sobre gênios do crime. E parece haver todo um subgênero de histórias de psicopatas geniais ludibriando a polícia. Mas fico muito contente que a Satou não seja esse tipo de protagonista. E que acabe se safando de suas cagadas por motivos acidentais (tipo o fato de viver no Japão).
Se pararmos para pensar, nenhuma daquelas pessoas resistiria muito tempo numa cultura mais inquisidora. Aquela ex-chefe já teria sido denunciada. O professor, então? Conheço docentes que foram demitidos por muito menos. Aliás, em muitas escolas o ônus da prova acaba caindo sobre os instrutores. - Gato de Ulthar
Além de que a sociedade japonesa é repleta de gente solitária, visto até ser comum idosos que morrem em seus apartamentos e são descobertos meses, se não anos depois. Não é muito difícil alguém como a Satou se beneficiar disto. Se quem ela matou na casa onde ela está for alguém que não possui familiares?
E sim, no Brasil, por exemplo, é muito mais difícil um professor sair com uma aluna sem levantar suspeitas.
Citando uma situação que me foi próxima, nesta semana, onde eu moro, um professor foi preso pois estava em um parque público beijando uma aluna de 12 ou 13 anos, não me recordo ao certo. O pai seguiu a menina, depois de denúncias de colegas, e filmou o ocorrido. - Vinicius Marino
Há um livro do Haruki Murakami chamado Underground: O Atentado no Metrô de Tóquio e a Mentalidade Japonesa. O título é auto-explicativo. Fala sobre o ataque terrorista de 1995 que inspirou, entre outros, Mawaru Penguindrum.
No prefácio, ele culpa esse espírito de complacência pelo número de fatalidades. O ataque foi feito com gás sarin, um neuro agente que causa convulsões, desmaios e perda de sentidos (sobretudo a visão).
Só que as pessoas continuaram no vagão, quietas, mesmo depois de se sentirem mal. Pior: custaram para reagir ou pedir ajuda, mesmo quando o pessoal ao redor começou a sofrer sintomas. Alguns só descobriram estar envenenados no trabalho, quando os efeitos já estavam mais pronunciados!
Fico me perguntando se não é isso que explica o apelo por esse tipo de história. Numa sociedade tão certinha, com pessoas tão pouco intrometidas, é tentador imaginar o que encontraremos escondido debaixo da pedra. - Fábio “Mexicano”
Certamente a Satou só é possível no Japão. O que não quer dizer que monstros equivalentes não sejam possíveis no resto do mundo, e os serial-killers americanos são fascinantes por serem REAIS (se bem que os atiradores é que estão na moda agora, né?).
Isso posto, tendo a enxergar em Happy Sugar Life apenas um tremendo exagero, algo como levar às últimas consequências coisas que só poderiam existir lá. O anime explora isso para … alguma coisa. Por enquanto continuo achando que seja alguma coisa pessimista. - Diego
Eu vou insistir que o anime vem sendo notadamente pessimista. A mensagem que eu tiro dele por esses dois primeiros episódios é que todo mundo tem esqueletos no armário, e quem não tem ainda vai ter tão logo for traumatizado por alguém que os tenha (vide o colega da Satou, que se tornou um pedófilo obcecado com a Shio após ser estuprado por sua antiga chefe). - Fábio “Mexicano”
(O que está em linha com a minha avaliação sobre a Satou: existe hierarquia no abuso e ela é respeitada. O mundo é horrível, mas não é todos contra todos. Isso talvez seja muito japonês também.) - Gato de Ulthar
Acontece que para a Satou é o mundo contra ela, desde cedo teve que lidar com abusadores e pessoas interesseiras, de certa forma o anime está correspondendo ao seu modo de vida. - Vinicius Marino
Falamos e falamos da Satou, mas esquecemos de alguém fundamental: e o moleque espancado?
Imagino que nenhum de vocês pense que a Satou conseguirá matá-lo assim tão rápido. O que esperam dele? Em especial, não lhes pareceu estranho que tenha murmurado uma jura de lealdade idêntica à que a Satou fez à Shio? - Gato de Ulthar
Até que não me soou estranho para falar a verdade, dava para ver que o rapaz estava buscando enlouquecidamente a menina, tanto é que mesmo estando na miséria, como deu para perceber, ele ainda se esforçava para colar cartazes.
Além disso, tivemos uma mostra do seu passado.
Talvez os dois sejam irmãos e eram abusados junto? Ou mesmo se não forem irmãos, foram criados no mesmo ambiente abusivo?
Mas isso não vem ao caso no momento, o que eu quero dizer é que pode ser plausível que, em um ambiente destes, tendo apenas um ao outro, uma jura de fidelidade destas pode ter brotado.
E como a Shio é uma criança, ela apenas repetiu o juramente que lembrava para Satou, que é a sua nova pessoa mais querida. - Fábio “Mexicano”
Ele tem a mesma cor de cabelo, devem ser irmãos. Ele está ferido (digo, já estava ferido antes de ser espancado) e a Shio tem algumas memórias travadas que parecem ser com uma mulher (mãe?).
Acho que tudo indica que eles sejam maltratados severamente, e talvez a coisa esteja ainda pior para ele sem a Shio. Quanto aos votos de matrimônio, a minha aposta é que foi algo que inventaram entre eles para aguentar os abusos e maus-tratos.
E, isso leva a uma outra hipótese interessante: quem primeiro veio com a ideia dos votos de matrimônio não foi a Satou, mas a Shio. Ela deve ter encontrado a garota ferida ou algo assim, fora de casa, não sei se o “amor” foi à primeira vista, mas em todo caso pegou a garota para ajudá-la, e, à noite, a Shio deve ter feito os votos como sempre (?) fazia com seu irmão (??), e aí sim a Satou ficou louca de pedra pela menina. - Diego
De fato, o episódio deu muito a impressão de que a Satou não sabe muito sobre o passado da Shio, e pelo visto de fato pegou a menina da rua e está com ela desde então.
Se for esse o caso, pode explicar porque a Shio não sente falta da família: talvez ela própria tenha fugido, ou tenha sido abandonada, ou qualquer coisa do tipo – o que, ainda por cima, explicaria porque aparentemente é apenas seu irmão que está colando cartazes, não o pai ou a mãe. - Fábio “Mexicano”
Pela memória alucinógena traumática da Shio, ela nem lembra o rosto da … mãe (?) dela. Aconteceu alguma coisa pesada ali. - Vinicius Marino
Se ela fosse muito nova (tipo uns 3-4 anos) até daria para engolir. O anime já disse a idade dela? Confesso que não lembro do mangá. - Gato de Ulthar
Ela deve ter uns 5 anos no máximo, acho. - Fábio “Mexicano”
Acredito que ela ainda não tenha idade para ir à escola. A Satou é bastante pervertida
Ela é nova o bastante para não saber que você precisa ligar o aspirador na tomada para ele funcionar. Quando eu percebi isso comecei a ficar com medo pela integridade física dela. É um perigo deixar crianças assim sozinhas em casa. - Gato de Ulthar
É um perigo deixar crianças assim sozinhas com a Satou - Fábio “Mexicano”
E parece que era um perigo para a Shio ficar em sua própria casa também. Essa daí não nasceu com sorte - Vinicius Marino
Você sabe que o negócio ficou sério quando até a ausência da Satou é um risco para a Shio.
E, com essa, acho que vamos ficando por aqui, pois estou louco para ver os próximos capítulos. Até a semana que vem!
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