O Finisgeekis, Dissidência PopÉ Só um Desenho e Anime21 compraram um desafio. Toda a semana, até o final da temporada, teremos um novo quadro a vocês.

Depois das agruras do dia, cheio de escrita, pesquisa e trabalho, nós nos sentaremos para um bom café, uma poltrona confortável – e um bate papo sobre o melhor da temporada.

Peça uma xícara você também, e mergulhe conosco no décimo episódio de Girls Last Tour:

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  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    Bem vindos a Girls’ Last Tour, o anime sobre as maravilhas do transporte público — e furões de gelatina que se comunicam por ondas de rádio.
  • diego gonçalvesDiego
    Só pra já tirar isso do caminho: a frente quadrada daquele trem me incomoda pelo quão aerodinamicamente ineficiente ela seria no mundo real
  • buniiito4Fábio “Mexicano”
    Dependendo da velocidade, o atrito com o ar é pouco ou nada relevante para o consumo energético de um trem. Por isso trens urbanos, metropolitanos, podem ter qualquer formato. E parecia ser o caso daquele – um serviço metropolitano de transporte de passageiros e carga.
    E eu não acho que a linguiça se comunique por FM. Foi a primeira coisa que a Chito pensou porque ele estava, afinal, falando, e estava em cima do rádio. Depois ela se surpreende: essa coisa está falando?
    E de fato vemos o movimento da boca dele várias vezes.
  • cat ultharGato de Ulthar
    Mais um belo episódio de Girls und Panzer!!! Ops… acho que é o anime errado…
    Gostei deste episódio, com direito a um “gato” pós-apocalíptico e uma elucidativa aula de física básica.
  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    Por onde começar? Acho que esse foi um dos episódios mais bonitos, falando de pura carga estética. É difícil apontar o que o anime não faz de excelente, mas creio que sua música supera todas as expectativas. Primeiro foi a belíssima sequência da chuva, depois a dança embriagada da Yuu e da Chi. E agora essa tomada super delicada, em um ponto de sua jornada – como o cenário dá a entender – que pode bem ser um momento de virada.
    Como cereja do bolo, a “música triste” que escutam no rádio até se parece com o tema de Nausicaa: outro grande anime pós-apocalíptico:
  • diego gonçalvesDiego
    A trilha sonora é um dos pontos mais fortes de Girls’ Last Tour, e considerando o quão bom é esse anime isso certamente é dizer muito. Não me dei ao trabalho de procurar o compositor ou compositora do anime, mas seja quem for: está de parabéns.
    Já sobre ser o episódio mais visualmente bonito… eu concordo, mas mais porque Girls’ Last Tour não tem muitas cenas amplas e belas como a desse episódio, sendo geralmente bem mais claustrofóbico. Não entendam mal: quando elas aparecem são mesmo incríveis, mas são momentos em meio a cenários bem mais… hum, “fechados” acho que é a palavra ideal.
  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    É verdade. Girls’ Last Tour não é um anime de grandes paisagens ou tomadas deslumbrantes. Fico me perguntando se agora que elas estão em um nível mais alto isso ira mudar. Até agora, vários dos momentos mais impactantes estiveram associados justamente à subida: as luzes da cidade após o encontro com Kanazawa, o vôo (e queda) da Ishii. É um recurso narrativo interessante, “pautando” os momentos de grande impacto com vislumbres do mundo real, tal como um sol que aparece entre nuvens carregadas.
    Claro, podemos ver da própria cena que elas ainda estão bem longe do topo – se é que existe, afinal, um “topo”. Mas achei – e talvez seja só impressão minha – que o elevador desse episódio foi um “ponto sem retorno” ainda mais agressivo que os outros na série até agora.
  • cat ultharGato de Ulthar
    Talvez eu esteja enganado, mas eu tenho minhas dúvidas se elas conseguiram chegar ao topo daquele mundo antes do final do anime. Pelo que deu para vê, ainda há muito o que subir ali. O que é fato é que realmente o quanto mais se sobre mais a tecnologia parece avançada. Se no nível atual há robôs com uma inteligência artificial bem programada, imagina nos próximos níveis.
  • diego gonçalvesDiego
    Talvez descubramos com o tempo que no topo está ainda um novo assentamento humano, agora com uma tecnologia ainda mais avançada do que tudo o que vimos até então. Bom, ou não… E se eventualmente isso rolar, é o tipo de twist que esperaria para o final do mangá, não desse anime rs. Na verdade, e com apenas dois episódios sobrando, arriscaria dizer que chegamos ao mais alto que chegaremos no anime.
  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    Eu nem queria trazer esse ponto agora, mas já que o Diego mencionou, não vamos negar fogo: o que vocês esperam do final desse anime? Acham que os créditos simplesmente subirão? Que teremos alguma última cena tocante de ending, igual à da chuva ou do episódio da bebedeira? Ou ALGUM tipo de resolução?
  • cat ultharGato de Ulthar
    Estou cético no que tange esperar alguma resolução, tanto pelo estilo da obra, que é mais simbólica do que qualquer outra coisa, como pelo fato de que o mangá ainda está em publicação. Ou inventam um final próprio, ou vai acabar como começou, em alguma cena melancólica com os créditos subindo.
  • diego gonçalvesDiego
    Esse tipo de obra quase que por natureza tende a ter finais de estilo “e a aventura continua”, então eu não realmente espero qualquer tipo de resolução da obra, em parte pelo que o Gato falou, mas também porque eu não acho que haja algo para se concluir aqui.
    Nossas personagens não possuem nenhum objetivo determinado, e não é como se houvesse algum drama ou tensão inerente entre elas que precisasse ser resolvido. De certa forma, podemos dizer que Girls’ Last Tour é uma história sem conflito, e como tal ela não exatamente necessita de uma resolução.
    Imagino que o episódio final será algo semelhante ao final do episódio 5 – alguma cena mais bonitinha, com uma OST combinando, que nos dê a sensação de que a história dessas duas ainda tem muitas páginas a correr.
  • buniiito4Fábio “Mexicano”
    Não espero um final para esse anime, com o mangá ainda em andamento. E parece que já há material suficiente para mais meia temporada ainda. Devem escolher um episódio emocionante, como o da dança, para encerrar e é isso aí.
    Mas o topo me interessa! Existe um curta chamado Tsukimi no Ie (La Maison en Petits Cubes) que é sobre construir literalmente em cima de onde estávamos antes. Eu imagino que as civilizações em Girls’ Last Tour não realmente desistiram ou deixaram de existir, elas apenas continuaram construindo em cima e para cima.
    Metaforicamente, é o que fazemos, não é? Para o bem ou para o mal, depois de vitórias ou de tragédias, continuamos construindo “em cima” do passado. E evoluímos no processo – talvez quando a Chito e a Yuuri encontrarem a civilização, ela já não seja mais composta por seres humanos como os conhecemos. Já temos alguma dificuldade para reconhecer peixes e batatas, e ainda não aceitei que “aquilo” é um gato.
    Talvez o verdadeiro infortúnio delas – e de todos que estão nos níveis inferiores – não seja o fim da humanidade, mas terem nascido nas franjas esquecidas dela. Por tudo o que vimos e sabemos, talvez os humanos da “verdadeira civilização”, bem no topo dessa mega-cidade olímpica, se pareçam com magos ou com deuses.
  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    Esse é um ponto interessantíssimo, até porque é a mais pura verdade. Na história da humanidade, nós estamos sempre construindo para “cima”. Isso pode soar estranho para nós brasileiros, mas em locais como a Europa, Oriente Médio e parte da Ásia, as pessoas vivem nas mesmas cidades há milênios.
    Eu participei de uma viagem a campo com arqueólogos britânicos em 2010, e eles me mostraram que algumas das casas ocupadas até hoje possuem fundações romanas! Basta tirar um detector de metais que você encontra torques e armas bretãs enterradas no chão.
    E isso sem falar em cidades como Roma, que mal conseguem fazer túnel de metrô, pois sempre que começam a cavar encontram algum tesouro da antiguidade.
    Acho que o que mais me impressionou, no entanto, foram os restos humanos. O passeio dos arqueólogos foi centrado em uma igreja do século XIII, que por sua vez foi construída sobre um antigo assentamento romano.
    Ela ficava em cima de um morro (que talvez já existisse desde a época dos povos pré-históricos), e que o guia nos disse ser uma verdadeira pilha de esqueletos. Dezenas de milhares de pessoas haviam sido enterradas ali ao longo dos milênios, de forma que em dias de chuva forte não era raro ver ossos descobertos ou levados pela enxurrada.
    Puxando a sardinha filosófica do Fábio, poderíamos argumentar que estamos todos na posição da Chi e da Yuu: “enterrando” um mundo que se acabou e subindo a um futuro desconhecido. Pois o passado, tal como o pós-apocalipse, é um mundo desprovido de pessoas.
  • buniiito4Fábio “Mexicano”
    Sem dúvida nos locais de ocupação humana contínua mais antiga isso é mais visível, mas mesmo aqui no nosso relativamente jovem país nossas cidades já estão em cima, literalmente, da história.
    Desde os paralelepípedos que existem por baixo do asfalto nas ruas de vários bairros aos trilhos enterrados das antigas linhas de bonde, e até ainda antes em cacos e restos de habitações do período colonial.
    Não é raro que obras públicas fiquem paradas por meses aguardando inesperados trabalhos arqueológicos. Nesse caso, o nosso “consolo” é não sermos Roma ou Atenas.
  • cat ultharGato de Ulthar
    Interessante o paralelo levantado pelo Vinicius. O mundo em que a Chi e a Yuu vivem é apenas uma extrapolação do nosso. Tenho um exemplo prático disso. na cidade em que moro foi iniciada uma obra de expansão do museu municipal, e por incrível que possa parecer, o museu estava em cima de achados arqueológicos e ninguém havia se dado conta! Mais especificamente um sambaqui indígena.
    Mas nem só de camadas humanas se pode fazer essa comparação, pois se levarmos em consideração, há solos mais novos e outros mais antigos, com várias camadas de sedimentos e formações rochosas de diversas eras.
  • buniiito4Fábio “Mexicano”
    Sambaquis são uns troços bem antigos que temos na América do Sul, não são? Lembro vagamente disso. Que doideira.
    E que ironia, justamente um museu em cima
  • cat ultharGato de Ulthar
    Sambaquis são uma espécie de depósitos fossilizados de conchas e utensílios muito antigos de povos indígenas que viveram no litoral.
    Mas não somente na América do Sul, há uns sambaquis bem mirrados nos EUA também.
    Em comparação com os brasileiros claro.
  • diego gonçalvesDiego
    Comparações com estratos arqueológicos certamente são bem válidas, mas o que não faltam em nossas cidades são construções para cima. Inclusive, não havia planos de se construir, acredito que na índia, uma legítima cidade arranha-céu?
    Um imenso prédio de apartamentos que seria praticamente uma pequena cidade em si mesma? Girls’ Last Tour bem poderia ser uma extrapolação disso, onde ao invés de mini-cidades em formato de prédio temos legítimas cidades umas sobre as outras.
  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    O Gato já teve ter visto esse tipo de coisa, mas para o Fábio e o Diego talvez seja novidade: essa é a reconstituição de um sambaqui tal como era na pré-história:

    Um grupo de estudos de que participo está desenvolvendo essa recriação. Esses “morros” brancos são na verdade depósitos de conchas.
  • cat ultharGato de Ulthar
    Que bacana essa reconstrução de um sambaqui! Eu nunca havia visto uma reconstrução do gênero, apenas vi em museus conchas, utensílios, urnas funerários e outros objetos relacionados.
    Quanto a pergunta do Diego quanto a um plano de se construir uma legítima cidade arranha-céu, acho ele quis se referir às arcologias, que são projetos de cidades inteiras dentro de grandes prédios.

    E extrapolando a ficção, já houve muitos projetos do gênero, como a Ultima Tower:
  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    Acho que isso é o mais próximo que chegaremos às cidades-estado de Kino no Tabi.
    O que eu acho interessante de Girls’ Last Tour em específico é como muita coisa parece ter sido construída, mas pouco parece ter sido destruído. É como se as pessoas realmente preferissem construir em cima em vez de começar de novo, resultando em estruturas parecidas com essas cidades, mas sem nenhum grande planejamento.
    É algo que reforça a metáfora com a vida em que o Fábio tem insistido. Como diz um grande filme, “nós podemos romper com o passado, mas o passado nunca rompe conosco”.
  • diego gonçalvesDiego
    Mas nós JÁ chegamos ao ponto das cidades-estados de Kino quando… bem… haviam cidades-estado. Embora a inspiração da série provavelmente venha da época dos micro-países no Japão, quando cidades, a fim de atrair turistas, começaram a se focar em uma “coisa” que fazia melhor que as outras ou que possuía de diferente (Sakura Quest é um anime que toca um pouco nisso, inclusive rs)
    Sobre Girls’ Last Tour, também vale mencionar que pelo visto aquela cidade gigantesca estava imersa em várias guerras ao longo da sua história, né. Talvez seja também por isso que não se deram ao trabalho de reconstruir, ou talvez as guerras tenham dizimado as pessoas antes que elas pudessem reconstruir qualquer coisa.
  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    Mas não se esqueça de que as cidades-estado da antiguidade, por exemplo, eram minúsculas em comparação às atuais. Mesmo as cidades italianas na Idade Média pareceriam vilarejos hoje em dia. Em Kino no Tabi (e na ficção científica em geral) estamos falando de uma densidade populacional brutal.
    A não ser, é claro, que você esteja falando de Singapura, a cidade-estado contemporânea por excelência.

    Ainda assim, ela tem um efeito na paisagem bem menos…. dramático que as arcologias, por exemplo.
  • buniiito4Fábio “Mexicano”
    Arcologias hoje infelizmente são economicamente inviáveis, e a menos que a população se multiplique várias vezes e não descubramos como colonizar outros corpos celestes, ou que a viabilidade de colonizá-los seja ainda menor do que construir arcologias, nunca teremos esses edifícios fantásticos.
    Singapura é um dos lugares mais densos do mundo, e ainda é mais barato construir aterros no mar e realizar um gerenciamento de terras rigoroso do que sequer começar a sonhar em construir pra cima.
    Em Girls’ Last Tour a barreira da viabilidade foi ultrapassada, evidentemente. Em alguns séculos, talvez seja, quem sabe. Mas em algum dos episódios, não vou me lembrar qual, é mencionado como a humanidade escolheu viver separada da natureza – isso sugere uma motivação que não seja a explosão populacional.
    Um argumento inocente para as arcologias é como, ao colocar toda a população em uma área minúscula, supostamente se livra o resto do espaço para a natureza voltar a proliferar. Mas isso é bobagem, cidades em si ocupam pouco espaço, a maior parte da área que ocupamos é tomada pela agropecuária. E enquanto precisarmos comer, isso não vai mudar.
  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    Mas que viagem hein? Começamos falando sobre furões de gelatina e chegamos às arcologias, passando por sambaquis e vestígios arqueológicos!
    Quem esperava tudo isso de um anime sobre meninas moe pilotando um Kettenkrad?
    Ficamos por aqui então, e até semana que vem!

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