O Finisgeekis, Dissidência PopÉ Só um Desenho e Anime21 compraram um desafio. Toda a semana, até o final da temporada, teremos um novo quadro a vocês.

Depois das agruras do dia, cheio de escrita, pesquisa e trabalho, nós nos sentaremos para um bom café, uma poltrona confortável – e um bate papo sobre o melhor da temporada.

Peça uma xícara você também, e mergulhe conosco no oitavo episódio de Girls Last Tour:

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  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    Bem vindos a Girls’ Last Tour. O único anime capaz de fazer gavetas de necrotério e memoriais parecerem fofos.
  • buniiito4Fábio “Mexicano”
    EU SABIA QUE ISSO ERA UM CEMITÉRIO DESDE O COMEÇO!!
    E sim, me orgulho muito disso.
  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    Eu também. Perks de ser fã de enlatados policiais :joy:
  • buniiito4Fábio “Mexicano”
    No meu caso foi só insight mesmo :no_mouth:
  • diego gonçalvesDiego
    Eu imaginava que era algum tipo de armário XP E quando descobrimos que era um cemitério eu me perguntei por que elas não encontraram restos mortais. Todo mundo foi cremado, talvez? Numa civilização vertical enfrentando a falta de espaço isso me parece bem possível.
  • buniiito4Fábio “Mexicano”
    Elas conseguiram abrir raríssimas gavetas, não dá para afirmar com certeza que nenhuma tivesse restos mortais.
  • cat ultharGato de Ulthar
    A parte do cemitério foi legal, mas o que mas me chamou a atenção foi elas achando cerveja e ficando bêbadas! Um pensamento safado rondou minha cabeça e cogitou um yuri. Mas claro que eu sabia que nada disso ocorreria.
    Só uma coisa, acho pouco provável elas terem achado cervejas em boa qualidade abandonadas por décadas ou séculos. Cerveja é uma bebida para ser consumida em pouco tempo, quanto mais nova melhor, salvo poucas variedades que são preparadas por alguns anos, elas estragam depois de um tempo.
    Mas sim, eu sei que esse anime não pretende ser realista, e possui inúmeras coisas um tanto “irreais”.
    Enfim, esse episódio foi muito gostoso de assistir! O anime continua muito bom.
  • buniiito4Fábio “Mexicano”
    Se a câmera estiver correta é o número nas garrafas for ano de envase, a cerveja tinha 29 anos. E qual é, se elas podem ter batatas quadradas, elas podem ter cerveja que dura décadas
  • diego gonçalvesDiego
    Se o anime fosse realista, elas já estariam mortas por comer comida estragada.
  • buniiito4Fábio “Mexicano”
    Disenteria por comer neve, no primeiro episódio.
  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    Existem cervejas de guarda que aguentam décadas engarrafadas. Duvido que a do anime fosse uma delas, no entanto. Mesmo assim, é quase certo que elas perderiam a carbonatação depois de tanto tempo.
    Quanto às gavetas, podem não ser exatamente um “ossário”. Em culturas que queimam seus mortos, é comum existirem santuários para louvar a memória dos entes amados. O “cemitério” encontrado pela Chi e a Yuu pode ter se tratado de alguma coisa do tipo. Os objetos, neste caso, seriam mementos dos falecidos, colocados lá pelos seus próximos.
  • cat ultharGato de Ulthar
    Também acho que é isso. Tudo aquilo é apenas um memorial, onde guardam lembranças. A maioria ficou trancado, somente um outro estando aberto.
  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    Achei peculiar que, de longe, esse “memorial” parece um mainframe abandonado. Ou um chipset de computador. É um paralelo interessante: um “armazenamento” de humanos (e memórias humanas) no formato de uma estrutura de armazenamento de dados.
    Captura de tela 2017-11-25 15.17.02.png
    Isso me lembrou do episódio San Junipero da série de ficção científica Black Mirror. No conto, pessoas conseguem fazer “upload” de suas consciências, que passam a residir na memória de um supercomputador. Desta forma, obtêm a imortalidade vivendo para sempre em uma simulação utópica.

    É bizarro – e até desconcertante – imaginar que, com o passar suficiente de tempo, o próprio legado humano pode ser reduzido a informação.
  • buniiito4Fábio “Mexicano”
    Bom, memórias são, literalmente, informação. Talvez soe tão óbvio para mim porque eu trabalho na área de TI, hehe
    O que eu realmente achei curioso foram as raias no chão – se você quiser interpretar como circuitos, bom, são as vias. Mas provavelmente eram trilhos para veículos automáticos acessarem os jazigos.
  • diego gonçalvesDiego
    Tecnicamente tudo pode ser considerado informação, não? Em todo caso, não vejo realmente nada de muito perturbador na ideia, e francamente falando se ainda sobrar a informação já é alguma coisa. Na longa escala temporal o mais provável é que a humanidade e tudo o que ela um dia produziu simplesmente desapareça.
  • cat ultharGato de Ulthar
    As duas até que são muito boazinhas, elas bem que podiam ter tentado arrombar uma ou outra gaveta.
  • buniiito4Fábio “Mexicano”
    Tudo é dado. Informação é dado com significado. Ficando apenas no exemplo de Girls’ Last Tour, os objetos inúteis que elas encontraram eram apenas dados, mas quando a Chito teve uma epifania e descobriu o que de fato eles eram, passaram a ser informação.
  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    Digo achar bizarro” que as pessoas se transformem em informação não porque não concorde com o julgamento do Fábio. Pelo contrário, como historiador, sei bem que pessoas podem virar informação. Tenho colegas que literalmente escavam caveiras e as transformam em dados de pesquisa.
    Meu ponto foi com um topos da ficção científica, bastante popular nos dias de hoje, de imaginar que a tecnologia progrida de tal forma que nossa sociedade seja “fagocitada” por uma lógica cibernética pós-humana.
  • buniiito4Fábio “Mexicano”
    Como profissional de tecnologia, isso para mim parece apenas um futuro bom, desejável, natural e inevitável, hahaha :smile:
  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    Bem, hoje eu trabalho com simulações de computador para estudar história. Basicamente crio “sociedades artificiais” e uso elas de laboratório para estudar eventos do passado. Então para mim também faz todo o sentido.
    Mas é interessante que isso aparece (como metáfora, senão como profecia) em animes que buscam criticar os rumos da nossa sociedade.
    A eu-lírica do opening de Mawaru Penguindrum, por exemplo, diz não querer ser reduzido a “zeros e uns”. E isto tem tudo a ver com o drama do atentado ao metrô de Tóquio que o anime aborda e o medo de que a sociedade japonesa estaria “normalizando” o terror pelo seu excesso de subserviência. Já aqui, em contrapartida, vemos isso como uma coisa natural.
    Aliás, tudo é “natural” nesse pós-apocalipse do anime, e isso também é peculiar.
    Esse gênero normalmente é usado para criticar ou questionar nossa sociedade: atacando nosso recurso às armas nucleares, destruição do meio-ambiente, fim das liberdades individuais, etc. Girls’ Last Tour, por outro lado, é só alegria. Nunca vi um pós-apocalipse como esse.
  • buniiito4Fábio “Mexicano”
    É tão natural que começo a questionar a própria natureza pós-apocalíptica do anime
    Animes bem longe do “fim do mundo” frequentemente não mostram personagem nenhum além dos protagonistas, exceto em raras ocasiões. Não estou dizendo que há transeuntes invisíveis em Girls’ Last Tour porque claramente não é o caso, apenas que o anime, inclusive seu mundo em ruínas, é muito mais uma metáfora para o nosso mundo hoje do que um tratado sobre um futuro hipotético
  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    Uma metáfora, diga-se de passagem, bem positiva.
    O que nos leva, finalmente, a essa cena.

    Eu comecei essa coluna dizendo que Girls’ Last Tour me parecia uma versão moe de Inferno no Pacífico. Não podia imaginar o quão errado eu estava.
    O Gato disse brincando sobre um certo clima yuri, e acho que, lá no fundo, tem aí um pouco de razão. Essas garotas realmente se amam. Não no sentido sexual, provavelmente, mas de uma maneira profunda, total, irresistível. Elas são a razão para continuarem vivas. O motivo dos seus sorrisos. O ombro para todos os momentos. São, enfim, tudo o que lhes resta.
    Se isso é uma metáfora do nosso mundo hoje, acho que sua mensagem remonta à Virgílio: omnia amor vincit (o amor vence tudo). Ao que eu acrescentaria: omnia amor est (tudo é amor).
  • buniiito4Fábio “Mexicano”
    O primeiro episódio fez um bom trabalho em nos enganar, não é? E esse episódio fez um bom trabalho em eliminar qualquer dúvida de que a Chito também ame a Yuuri, o que alguém focado no aspecto pragmático da personalidade dela pode ser levado a pensar.
    Despida de todas as travas, a primeira coisa que ela fez foi demonstrar de várias formas diferentes o quanto a Yuuri lhe é querida.
  • diego gonçalvesDiego
    Pior que agora que o Fábio falou sobre “despir de todas as trevas” que eu parei para pensar: a Chi já tinha sorrido no anime antes? Porque acho que essa é a primeira vez que ela de fato sorri.
    Já fez algumas caras de contentamento antes, como quando comia, mas sorrir de fato acho que foi só agora, bêbada de tudo.
  • buniiito4Fábio “Mexicano”
    Eu acho que já, mas não vou me lembrar quando. Os sorrisos dela são raros mesmo.
  • cat ultharGato de Ulthar
    Essa cena da Chito puxando as bochechas da Yuuri ficou muito fofa e expressiva. Nesse anime de blobfishs, creio que esse seja o ápice da cumplicidade da dupla.
  • booker finisgeekis 1Vinicius Marino
    Esse é talvez o aspecto mais impressionante de Girls’ Last Tour. Tsukumizu, a autora original da obra, tem um traço estilizado, poluído, às vezes quase simplista. Mesmo assim – ou talvez por causa disso – é capaz de produzir cenas incrivelmente expressivas.

    Twitter da autora

    Girls’ Last Tour é prova de que abandonar o figurativismo, para um anime, pode fazer toda a diferença. Não consigo imaginar a mesma candura, leveza ou sutileza caso decidisse seguir os cânones da animação japonesa.
    E com isso acho que encerramos por aqui. Muita coisa foi discutida, mas Girls’ Last Tour está longe de acabar. Até a semana que vem, e boa sorte no fim do mundo!

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