O Finisgeekis, Dissidência Pop, É Só um Desenho e Anime21 compraram um desafio. Toda a semana, até o final da temporada, teremos um novo quadro a vocês.
Depois das agruras do dia, cheio de escrita, pesquisa e trabalho, nós nos sentaremos para um bom café, uma poltrona confortável – e um bate papo sobre o melhor da temporada.
Peça uma xícara você também, e mergulhe conosco no sétimo episódio de Girls Last Tour:
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- Vinicius Marino
“Qual é a graça de seguir em frente se temos setas que nos apontam o caminho?”
Fazer uma história “profunda” é difícil. Quando ouço que um anime (ou qualquer tipo de obra) passa uma “mensagem” sobre o que significa ser humano, eu geralmente reviro os olhos. Na maior parte das vezes, não passa de uma tentativa pretensiosa de parecer diferentão.
Mas eis que surge nos surge uma série low profile, completamente acessível, e nos joga um questionamento digno dos livros de filosofia.
Girls’ Last Tour me pegou de jeito, pela… terceira vez em seguida? Este anime não falha em me surpreender! E vocês, o que acharam? - Fábio “Mexicano”
Acho que o anime finalmente respondeu a questão que o Gato vem levantando desde as expectativas:
Batatas fazendo batatas, elas estão se reproduzindo!
Brincadeiras à parte, olhe o rosto de felicidade delas. Está dando trabalho, e não é muito mais comida do que elas costumam encontrar normalmente, um dia vai acabar. Mas elas estão felizes porque elas estão criando.
Fazer a própria comida ou fazer filhos são coisas muito distintas, mas ambas tem a ver com criação, algo que em um mundo que já acabou não deveria mais ser possível – e com efeito, a Ishii fracassou tentando criar algo. Mas nossas protagonistas conseguem! - Vinicius Marino
No último Café com Anime conversamos um pouco sobre a tecnologia de Girls’ Last Tour. No episódio dessa semana, obtivemos duas respostas em uma cajadada só: as “batatas processadas” são de fato naturais! Mais do que isso, são o ingrediente de base para as rações que elas tanto comiam! - Fábio “Mexicano”
Achei isso genial também. Bom, é estranho, mas dentro do contexto não parece impossível que as batatas tenham sido selecionadas até ficar daquele jeito. E é um tanto curioso que tenham sido escolhidas como fonte primária de carboidratos, rompendo com milênios da história humana com grãos. - Gato de Ulthar
Está ficando cada vez mais difícil falar algo sobre este anime que não seja uma repetição do que já falei nos episódios passados! Ele continua muito bom, e muito fofo! A relação das duas meninas continua uma belezura, e esse episódio não foi diferentes.
Destaque para a parte da cozinha, vendo os esforços das garotas em produzir seu próprio alimento. A parte das setas também foi interessante, ao questionar se a vida seria boa se sempre tivéssemos setas pra nos guiar nas nossas decisões. - Diego
Eu estou com o mesmo problema do Gato: sinto que estou ficando sem o que dizer desse anime, que continua muito bom mesmo. De fato as batatas foram bem curiosas, mas vamos lembrar que hoje temos melancias quadradas, então a seleção me parece possível.
E sobre serem a principal fonte de carboidrato, essa não é a premissa daquele filme do astronauta preso em marte? The Martian, eu acho. - Fábio “Mexicano”
As melancias quadradas não são geneticamente quadradas, elas crescem dentro de um molde. Pelo que o anime mostrou, aquelas batatas crescem naquele formato maluco sozinhas.
Mas sim, dentro do que o anime se propõe a ser e fazer, é perfeitamente verossímil. - Vinicius Marino
Melancias quadradas de fato crescem dentro de um molde, mas todas as melancias atuais, com muita polpa, são fruto de engenharia genética realizada ao longo dos séculos. Vejam só as “melancias” dessa natureza morta do século XVII, por exemplo:
Aliás, esse processo tem um nome curioso. Chama-se “domesticação” de plantas. Praticamente todas as variedades vegetais que comemos hoje passaram por isto. - Fábio “Mexicano”
Ah sim. Praticamente todas as culturas humanas – ou todas. Plantas e animais. Vacas tinham 3 metros de altura, tomates eram amarelos, e por aí vai. - Vinicius Marino
Sobre a questão dos carboidratos, não sei se batata é de fato o melhor alimento, mas com certeza é uma planta bastante resistente, que cresce na maioria dos lugares. Não é à toa que foi incorporada tão bem à culinária de países do norte da Europa, onde é muito frio.
Imagino que, para uma humanidade à beira da extinção, em um planeta com recursos exauridos, isso faz toda a diferença.
- Vinicius Marino
Vamos falar um pouco das questões mais abstratas que o anime trouxe. O episódio dessa semana abordou um dilema bem pertinente entre seguir os passos dos outros e traçar nosso próprio caminho. É a escolha entre o familiar e o incomum – ou ainda, entre a segurança e a liberdade.
Essa é uma questão que acho muito importante, pois todos nós a enfrentamos na vida – nem sempre com as mesmas respostas.
Em Mahoutsukai no Yome, que também estamos acompanhando no Café com Anime, temos um exemplo de uma pessoa que optou pelo caminho da “segurança”, às custas da sua dignidade.
Por outro lado, há aqueles que consideram a “liberdade” um fim em si, mesmo que seu resultado seja a destruição. Nos mangás, o caso clássico talvez seja o da Nausicaa de Miyazaki, que opta por deixar a natureza seguir seu curso – mesmo que isto, eventualmente, provoque a extinção da humanidade.
Qual é a opinião de vocês sobre esse dilema? E que outros animes e mangás vocês conhecem que a abordaram de maneira interessante? - Fábio “Mexicano
Sempre fico incomodado com o uso estreito da palavra “niilismo” De todo modo, essa parece ser sim a questão central de Girls’ Last Tour, assumindo que o anime tenha uma, é claro. E as duas garotas representariam os polos opostos dessa disputa: a Chito é responsável e sempre tende a escolher agir by the book, enquanto a Yuuri quer se divertir, ver e fazer coisas interessantes – e o que é “interessante” para ela pode mudar a todo momento.
Se aceitarmos essa interpretação, não existe conclusão possível senão a de que o anime defende “o meio termo”, do qual as duas são a síntese. - Gato de Ulthar
Eu creio que sempre haja a hora de arriscar e a hora de ser precavido. A Yuuri deu a ideia de ambas pegarem um caminho diverso, fora do caminho das setas, mas entendeu que naquele caso em especial, seria mais sensato mesmo seguir pelo caminho pré-estabelecido. - Diego
Ênfase no “naquele caso em especial”. Afinal, a jornada das garotas até aqui vem sendo bastante sem rumo. Elas só escolhem um destino e seguem até ele como puderem, independente de quantos já tiverem passado por ali. Talvez seja esse o meio termo que o anime propõe: liberdade, mas direcionada. Ter um objetivo e seguir até ele como for melhor. E se um dos caminhos tiver algumas direções indicadas, dar uma chance a esse caminho mais percorrido. - Vinicius Marino
Talvez não se trate exatamente de um “meio termo”, mas da ideia de que precisamos dos dois tipos de pessoas. As que jogam “seguro” e as que se arriscam. As que seguem as regras e as rebeldes sem causa. As que preservam conhecimento e as que queimam livros.
Ninguém está certo 100% das vezes. Mas é difícil saber quando de fato erramos. Daí a necessidade de termos alguém para nos cutucar.
O escritor G.K. Chesterton costumava dizer que progressistas são aqueles que insistem em errar, e conservadores, aqueles que impedem os erros de serem consertados. Talvez a sociedade ideal seja uma mistura salutar dos dois: aqueles que nos forçam a evoluir e abandonar tradições ruins e aqueles que empacam, para impedir que a “evolução” não nos leve a um mundo ainda pior. - Fábio “Mexicano”
Talvez o anime não queira de verdade dizer nada, acho essa a melhor interpretação - Gato de Ulthar
Convenhamos, se as duas meninas pensassem igual, o anime seria muito chato. - Fábio “Mexicano”
É só imaginar como seria um anime Kanazawa Last Tour, ou Ishii Last Tour. - Diego
Eu veria um Kanazawa Last Tour - Vinicius Marino
Um Ishii’s Last Tour, em contrapartida, seria um ótimo remédio para insônia - Fábio “Mexicano”
Eu acho que o do Kanazawa tenderia ao tédio rapidamente também
Vou colocar esse GIF aqui só para ele ir parar no Finisgeekis. Pra dar um ar assim, sabe, meio Tumblr:
- Vinicius Marino
Eu ia dizer que é muito difícil, narrativamente, fazer uma história com uma única personagem. Se você não está disposto a inserir um interlocutor (ou tirar um da cartola, como a motocicleta falante de Kino no Tabi) é preciso recorrer a fluxos de consciência, flashbacks e outras “viagens” mentais.
MAS acho que o Fábio, de forma muito singela, expressou esse ponto melhor do que eu. Olhem para esse gif e me digam se o anime seria o mesmo sem as duas.
É como dizem: uma imagem vale mais que mil palavras.
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