O Finisgeekis, Dissidência Pop, É Só um Desenho e Anime21 compraram um desafio. Toda a semana, até o final da temporada, teremos um novo quadro a vocês.
Depois das agruras do dia, cheio de escrita, pesquisa e trabalho, nós nos sentaremos para um bom café, uma poltrona confortável – e um bate papo sobre o melhor da temporada.
Peça uma xícara você também, e mergulhe conosco no sexto episódio de Girls Last Tour:
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- Vinicius Marino
Mais um excelente episódio de Girls’ Last Tour. Daqueles que chegam a nos trazer uma paz de espírito. Acho que eu, também, estou aprendendo a encontrar tranquilidade no desespero.
Pelo menos, essa foi a minha opinião. O que vocês acharam? - Fábio “Mexicano”
Acho que quem quer que cruza o caminho com a Chito e a Yuuri tem um azar danado. - Gato de Ulthar
Fiquei com pena da Ishii não ter conseguido voar até a outra cidade Pelo menos ela levou o fracasso numa boa. Não tem como não ter gostado deste episódio, com direito a banhos quentes e batatas.
Girls’ Last Tour continua com o que vem mostrando no último episódio, cada vez mais nos mostrando um pouco mais das duas queridas protagonistas. - Fábio “Mexicano”
A única hipótese de Girls’ Last Tour ter uma reviravolta sinistra seria as garotas voltarem a ficar sem comida. Agora conseguiram um monte de batatas e sabem onde ir para encontrar mais, e eu posso dizer que estou bastante satisfeito com isso. Esse episódio é como o do cartógrafo, tecnicamente. - Diego
Vou dizer que quando a Yuu disse, no comecinho do episódio, que era preciso se dar bem o desespero, eu achei que seria só uma frase solta engraçadinha. No fim, isso virou o próprio tema do episódio, o que mostra o quão bem amarrado Girl’s Last Tour vem sendo.
Ah, e quem mais teve um mini-ataque cardíaco quando o avião se despedaçou? - Vinicius Marino
Há muita coisa a se comentar nesse episódio, mas queria começar justamente por esse mote. Ele é o exemplo perfeito da filosofia “care-free” que as personagens exibiram tão bem no episódio passado. Na maioria da ficção pós-apocalíptica, o mais comum é vermos personagens sucumbindo ao desespero (ou usando-o de estímulo para salvar o que resta da humanidade.
Girls toma o caminho oposto, e é por isso que parece tão diferente.
O Fábio comentou que a trajetória da Ishii se parece com a do Kanazawa. Eu acho interessante ver como as duas são paralelos e ao mesmo tempo opostos.
Ambos tinham um propósito, viram seus planos ruírem e fizeram a paz com seu fracasso. Mas enquanto Kanazawa foi para os níveis superiores, cheio de paisagens desconhecidas para explorar, Ishii caiu direto aos inferiores, onde presumivelmente não há máquinas funcionando para ela mexer (nem comida para sustentá-la por muito tempo).
- Gato de Ulthar
“Se dar bem com o desespero”, a Yuu parece a mais ingênua e fora da casinha, mas é a mais sábia em sua ingenuidade.
Um outra coisa que eu percebi, não que seja uma crítica, já que não atrapalha no andamento no anime, é que o próprio anime continua sempre dando as soluções para os problemas das garotas de uma maneira super conveniente.
Qual a possibilidade, em um mundo quase deserto, você quebrar o seu veículo e logo depois encontrar alguém que sabe e tem os meios para consertá-lo?
Por sorte esta uma obra mais simbólica do que outra coisa. - Fábio “Mexicano”
Sobre as trajetórias diferentes: acho que a intenção nos dois casos era evitar que os adultos passassem a andar com as garotas, ou sequer as reencontrassem.
A Ishii que caiu vários níveis abaixo é o caso óbvio, em um mundo desse tamanho, sem um veículo, quanto tempo ela demoraria para fazer todo esse caminho para cima? E isso ignorando que ela precisa em primeiro lugar conseguir comida, portanto não pode necessariamente fazer o caminho mais curto.
E do outro lado, garante que Chito e Yuuri sequer por um instante considerariam buscá-la ou esperá-la – se tivesse caído no mesmo nível, talvez estivessem indo atrás dela agora?
O caso do Kanazawa é mais complexo, mas ele também, em sua profissão de cartógrafo, não pode se dar ao luxo de andar junto com as garotas, e nem elas vão querer acompanhá-lo. Ele precisa ser bastante sistemático nos caminhos que toma para conseguir desenhar um mapa útil, enquanto as duas só querem saber como chegar no próximo ponto que lhes desperta interesse. - Vinicius Marino
Entendo as razões narrativas para tanto. Dito isso, se fosse EU no pós-apocalipse, faria de tudo para manter contato com outras pessoas. Em especial um mundo tão despovoado quanto esse.
Mudando de assunto, nesse episódio tivemos uma mostra privilegiada da cultura material e tecnologia dessa sociedade. Fiquei intrigado pelas “batatas”, que mais pareciam una trechos sintéticos.
São ainda mais estranhas que as tatos de Fallout.
- Fábio “Mexicano”
Eu acho que a Ishii disse que as batatas eram processadas, não disse?
Isso é uma beterraba radioativa, LOL - Vinicius Marino
Um híbrido de tomate e batata radioativo - Fábio “Mexicano”
Ah, ok, um batatomate, - Vinicius Marino
Além das “batatas processadas”, há mais alguma coisa da tecnologia desse mundo que chamou a atenção de vocês pela esquisitice? Não só desse episódio, mas do anime como um todo? - Gato de Ulthar
O avião em si. Ele parecia bastante funcional, mas eu o achei esguio demais, me pareceu muito pouco harmonioso. Fico me perguntando como aquela “fábrica” possuía planos de construção de aviões de todas as épocas, desde os primeiros modelos inventados. - Fábio “Mexicano”
Tirando a engenharia das multi-plataformas e outros detalhes arquitetônicos ocasionais, nada naquele mundo parece particularmente futurístico.
Tenho certeza que é proposital. Como eu já disse por toda a parte (aqui, meus artigos, podcast, conversas informais), não vejo Girls’ Last Tour como uma história de ficção científica sobre o fim do mundo. É, em nível simbólico, um anime sobre o “fim do mundo pessoal de cada um de nós”, já que independente da sobrevivência da humanidade essa é de fato nossa única vida e nossa única jornada pelo mundo.
Seja em um mundo vazio de significados como o de Chito e Yuuri, seja em um mundo com excesso de significados contraditórios como o nosso, ao fim e ao cabo cada um precisa encontrar seu próprio significado sozinho enquanto se esforça para acordar vivo no próximo dia.
A boa notícia é que essa não precisa ser uma jornada solitária, como as garotas de gelatina mais fofas da temporada nos provam semana após semana – mas se for, isso também não é problema nenhum - Diego
As batatas até agora realmente foram o que me mais me pareceu esquisito. No mais, só a pura escala daquele mundo é que me surpreende ainda mais.
A cena da Ishii caindo é uma bem impactante visualmente, em termos de mostrar o puro tamanho daquela cidade, com camadas e mais camadas uma sobre a outra.
Outra cena que mostrou muito bem esse tamanho todo foi quando elas chegaram na pilastra que servia de elevador para o nível superior. É um aspecto estético que ao mesmo tempo reforça o sentimento de decadência e de desolação. - Vinicius Marino
Concordo completamente com a interpretação do Fábio. Mas acho interessante como, para produzir esse efeito, o anime deliberadamente adotou designs à beira do uncanny valley.
O mundo é “quase” normal; seus aviões, “quase” realistas; seus prédios, “quase” contemporâneos. Há, claro, algumas coisas bem conhecidas (o hardware da Segunda Guerra) e outras completamente fantásticas (a cidade multiníveis). Porém, uma boa parte parece residir no meio-termo. E acho isso fenomenal.
Enfim: a essa altura do campeonato, acho que já temos uma boa ideia do que Girls’ Last Tour está disposto a nos entregar. Então vai uma última questão: que “drama” específico relacionado ao pós-apocalipse vocês gostariam de ver a série abordar até o final? Valem tanto coisas concretas quanto dilemas mais abstratos do nosso “pós-apocalipse interior” (solidão, medos, a iminência da morte etc.) - Fábio “Mexicano”
Eu realmente gostaria de ver o anime abordar o risco de separação entre as duas. Acho que é o único drama relevante que ele não abordou ainda. O resto é tudo cotidiano, ou “problema dos outros”, enquanto a relação entre Chito e Yuuri a gente dá como natural e imutável.
Elas estão, sem querer, dando muitas lições morais para aqueles que elas encontram e para os espectadores, mas acho que essa é a maior oportunidade de elas também aprenderem algo - Diego
Acho que seria interessante o anime abordar um pouco mais o futuro. Atualmente, a Chi e a Yuu vivem em uma espécie de limbo, vagando de ponto em ponto buscando comida e combustível.
Seria interessante elas começarem a pensar se vão fazer isso pelo resto da vida ou se vão encontrar um lugar para “assentar”.
Talvez pudessem até re-descobrir a agricultura, e darem um novo começo a uma nova civilização. Uma civilização de pessoas-gelatina - Gato de Ulthar
Esse papo do Diego sobre elas redescobrirem a agricultura e dar um novo começo a civilização me lembrou de algo que eu disse lá trás em nossas primeiras impressões, sobe elas encontrarem um banco de esperma preservado e se autofecundarem… - Fábio “Mexicano”
É, eu pensei nisso também, mas achei uma má ideia mencionar aqui.
Talvez tecnologia para se reproduzirem mesmo sendo do mesmo sexo, ou se clonarem? Qual é, estamos falando de mais de um milênio de avanço… - Vinicius Marino
Bom, não é como se dramas sobre reprodução e sobrevivência da espécie fossem estranhos ao pós-apocalipse.
E acho melhor pararmos por aqui, antes de entrarmos em detalhes específicos demais.
Até a próxima!
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