- Vinicius Marino
Bem vindos a mais um Café com Anime.
E veja só! Já estamos no episódio 5 de Girls’ Last Tour. O que acharam dessa nova etapa da jornada?
Pessoalmente, estou me surpreendendo cada vez mais com a beleza desse mundo destruído. Em nosso último encontro, o Fábio comparou o anime a um game point-and-click. Acho que o paralelo não podia ser mais feliz: Girls’ de fato parece um adventure game das antigas, com cenários super-elaborados, às vezes desenhados à mão.
É uma forma de storytelling em si, em que o próprio ambiente vira uma personagem. - Gato de Ulthar
Eu gostei deste episódio, embora, ao meu ver, ele tenha sido o mais “slice-of-life” até agora, sem focar muito nos mistérios daquele mundo, mesmo que em determinados momentos a estranheza do ambiente e a trilha sonora sugeriram algo diferente algo mais macabro.
Foi um bom episódio mostrando um pouco mais do relacionamento das duas protagonistas, foi mito meigo aquele momento em que elas imaginam a casa dos seus sonhos. - Vinicius Marino
Sem sombra de dúvida, uma das cenas mais fofas até agora.
- Diego
A cena delas imaginando ter uma casa foi ao mesmo tempo fofa e triste, considerando o atual estado daquele mundo e da humanidade como um todo. Mas o episódio como um todo foi de fato muito bom. A parte do sonho da Chi foi bem engraçada, ao passo que a parte da chuva deu um bom fechamento para o episódio, especialmente com aquela música de encerramento. Agora, mais alguém achou o “abrigo de chuva” delas muito parecido com uma aranha de concreto?
- Fábio “Mexicano”
ALGUÉM ME SALVE! ESTOU DERRETENDO!! É fofura demais para um episódio só!! O anime poderia acabar aqui que seria o anime do ano. Aliás, todos os animes poderiam acabar depois desse episódio, para sempre. Pensando melhor, o universo pode parar, não há mais razão para continuar, tudo aquilo que começou com o Big Bang atingiu seu clímax e seu propósito agora, isso é verdadeiramente o fim, tanto no sentido de final quanto de finalidade.
Falando sério, sem hipérboles (que hipérboles? eu falei tudo sério e no sentido literal, oras!), esse episódio foi diferente de todos os demais. Começou direto com a abertura e terminou com um encerramento próprio. Pura arte nas três esquetes, que, em sequência, mostrou graficamente a criatividade das garotas, como a Chito vê a Yuuri representado de forma surreal, e um espetáculo musical onde e quando menos esperávamos.
E isso assusta, não acham? É como se o anime tivesse atingido seu ápice, pelo menos na linha narrativa desenvolvida até agora. Ou o imaginam indo mais longe do que isso? De sorte que, acredito, esse episódio seja também um ponto de virada para o anime. Mas virar em qual direção? - Vinicius Marino
Bom, um giro inegável que é ele perdeu o medo de apelar ao simbolismo. Nos últimos episódios, passamos bastante tempo “decifrando” esse pós-apocalipse a partir do que elas nos diziam.
Neste, Girls’ Last Tour deixou bem claro que não anda por aí. Vejam por exemplo a cena do “lar”, em que elas dizem não saber o que é uma “casa”, mas sabem o que é uma cadeira e uma dispensa. É como se o anime tivesse deixado de lado as contingências do “sci fi” por algo mais puro. Como se estivesse nos dizendo que sua mensagem é mais importante que os detalhes.
Esse é o tipo de história que Roger Ebert costumava chamar de “roteiros com livre-arbítrio”. E o resultado é extraordinário. - Fábio “Mexicano”
Falando das coisas que importam: parece que o anime se passa em um futuro pós-Jetsons.
- Vinicius Marino
Essas estruturas me intrigaram. Por um momento, pensei que fossem uma espécie de palafita. Mas não faz sentido, pois vemos ao mesmo tempo o leito do que parece ter sido um córrego.
Também podem ser alguma espécie de favela vertical, como a cidade murada de Kowloon, em Hong Kong.
Como eu disse, no entanto, não parece que o anime esteja enveredando pela “hard” sci fi. Parece uma escolha estilística deliberada, tal como o abrigo em formato de aranha. Gosto de ver que ele esteja tomando esse rumo. Muitos cenários pós-apocalípticos tendem simplesmente à mesmice. Esse mundo, no entanto, parece a cada episódio mais único. - Fábio “Mexicano”
Sim, se o anime for tentar explicar tudo, pode acabar ficando meio chato, ou perder o foco. E parte da graça é tentarmos achar respostas por conta própria, mesmo que não haja resposta em primeiro lugar - Diego
O mundo de fato parece cada vez mais único. Dito isso, me passou pela cabeça que essas estruturas altas fosse porque haveria inundações frequentes ali, embora pensando bem teria de ser uma quantia altamente absurda de água para justificar construções tão altas kkkkk - Fábio “Mexicano”
Pode ser apenas uma forma dos ricos se diferenciarem dos pobres. Chegam com seus carros voadores direto em suas casas no céu, enquanto os pobres andam pelas marginais dos córregos e vielas escuras
Note como o encanamento era frequentemente instalado sobre o chão, ao invés de enterrado, o que seria o normal. Ou ali não era para ser lugar de trânsito originalmente, ou aquelas instalações hidráulicas foram feitas depois, muito depois da estrutura original ter sido construída e preferiram não abrir buracos no chão - Gato de Ulthar
É realmente um mundo muito singular, parece ser uma tentativa cada vez mais impossível tentar entendê-lo de uma maneira coesa. Creio que é objetivo do próprio anime deixar essas coisas no ar, sem dá uma explicação contundente, apelando para o puro simbolismo.
E isso é ruim? Não, longe disso. Como o anime não passou nenhuma pretensão de ser uma ficção científica séria, vamos aproveitar os símbolos! - Vinicius Marino
Falando em ficção “soft”, o que vocês acharam da esquete final sobre a música? Pessoalmente, ela me lembrou de dois filmes. O primeiro é “A Criação do Mundo Parte 1” de Mel Brooks, em uma cena em que um homem das cavernas acidentalmente “descobre” música derrubando uma pedra no pé do seu colega.
O segundo, mais sério, é “Ensaio Sobre a Cegueira“. Na cena (ausente do livro, se bem me lembro), os sobreviventes do apocalipse se deparam com um rádio e escutam uma canção durante um raro momento de sossego. É uma tomada super bonita, que mostra como pequenos momentos de prazer podem se tornar tão preciosos em situações extremas.
Pensando agora a respeito, Girls’ Last Tour parece ter um pouquinho das duas obras: a comédia pastelão de uma e a melancolia claustrofóbica da outra. - Diego
Não tenho muito o que opinar, exceto que foi uma cena bem bonitinha. Acho que passa a mensagem de que mesmo na pior das situações o lazer e o relaxar são também importantes, e a música está ligada a isso há já um bom tempo. - Fábio “Mexicano”
Eu acho que foi muito mais do que lazer e relaxar. Desde o começo do anime que Chito e Yuuri estão não só viajando em busca de comida e abrigo, como vivendo com alegria e curiosidade um dia depois do outro.
Nesse sentido, a cena da música não foi um ponto fora da curva, mas talvez tenha sido o ponto de máximo. O mundo, para nós, pode ter acabado, mas para elas é tudo o que têm e está apenas começando. - Gato de Ulthar
Foi uma das muitas belíssimas cenas que este animes está proporcionando. Como o Fábio mesmo mencionou, o mundo para elas não acabou, cada dia é um novo começo, onde aprendem e sentem coisas novas. Assim, toda experiência, como a música da referida situação, é um momento de percepção sensorial sumamente gratificante para as meninas. - Vinicius Marino
Só tenho a concordar com o Fábio e o Gato. A Chi e a Yuu podem estar andando a esmo atrás de comida. Mas sua jornada é muito mais profunda: elas estão, literalmente, dando sentido para a vida depois de todos os “sentidos” terem sido obliterados.
Não apenas elas: se lembrarem, observamos o mesmo comportamento no cartógrafo do episódio 3. É um retrato poderosíssimo da capacidade humana de encontrar um propósito para sua existência. - Diego
Acho que não da pra falar aqui em buscar um propósito ou em dar um sentido à vida, dado que a própria Yuu rejeita a necessidade disso justamente no episódio do cartógrafo. Elas me parecem muito mais viver momento a momento mesmo, tentando se manter vivas e meio que é isso. E em meio à busca por comida e abrigo, acabam fazendo uma pausa forçada para descanar ao som da chuva rs - Fábio “Mexicano”
Elas rejeitam a busca de um propósito no sentido tradicional, ao invés mostrando que viver é em si um propósito. Pelo menos é assim que estou vendo esse anime - Vinicius Marino
Eu o vejo da mesma forma. “Carpe diem” é uma filosofia de vida, afinal de contas.
Lembrando que estamos falando da Yuu. Se pensarmos na Chi, ela tem de fato uma agenda própria. Seu desejo de preservar os livros é um propósito, muito embora não tenha sido mencionado nesses últimos episódios. - Fábio “Mexicano”
Eu acho que a diferença não é de propósito, mas só de desejo. A Yuu só quer viver mesmo, dessa forma que descrevemos. A Chi se preocupa em preservar algo. Ela não quer mais do que viver, mas gostaria que sua experiência no mundo permanecesse de alguma forma
A cena do episódio anterior em que ela se apressa pra tirar uma foto com a Yuuri depois da amiga ter falado sobre como as fotos durariam muito além do desaparecimento dos objetos fotografados foi o que me fez crer nisso - Vinicius Marino
Vários dos episódios dessa semana parecem ter nos mostrado um “ponto de inflexão” de uma maneira ou de outra.
No caso de Girls’ Last Tour, ele parece ter sido retrospectivo. Tivemos um episódio que foi uma verdadeira celebração da jornada até aqui. As duas sequências mais “oníricas” do episódio, a cena do apartamento e o sonho de Chi, foram emblemáticas nesse sentido. Vimos todas as curiosidades com que cruzaram pelo caminho – os deuses-salsicha, o peixe sem barbatanas – junto a seus medos, desejos e pensamentos intrusivos.
Para fechar, retomo uma pergunta feita pela Fábio: para onde vocês acham que ele irá a partir daqui?
Vocês acham que essa foi a “calmaria antes da tempestade” que antecede uma mudança de tom? Ou acham que Girls’ conseguirá, de alguma forma, superar o que foi entregado até agora, nos seus próprios termos? - Fábio “Mexicano”
Realisticamente, acho que vai só continuar igual. Esse foi o ponto de máximo intermediário, e podemos esperar outro semelhante no final – talvez mais emotivo. Mas existe sim a possibilidade de que, atingido esse máximo, o anime comece a mudar de tom.
O que me parece muito difícil é um episódio 6 inequivocamente melhor que esse 5 e no mesmo tom. - Vinicius Marino
Esse é o problema de “momentos seminais”. Quando se está no topo, o único caminho possível é para baixo…. - Gato de Ulthar
Também acho que possível que esse episódio tenha sido um ponto de virada, mas um ponto singelo. Pode ser que o próximo aborde um pouco mais de “worldbuilding“, com elas enveredando em outros mistérios deste mundo fantástico. - Diego
Acho bem difícil o anime mudar de direção agora. Acho que o episódio serve muito mais como uma confirmação da direção tomada até aqui, inclusive, e eu estou bem de boas com isso. Gosto do anime como está, e ele mudar demais o tom poderia ser bem problemático se feito sem MUITA maestria. - Vinicius Marino
Acho que não nos resta mais nada além de aguardar o que ele irá nos trazer. Até a próxima semana!
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