Na minha última coluna, eu trouxe a vocês algumas das atrações mais badaladas (e zicadas) da antiga capital japonesa.

Espero que com isso eu não tenha passado a impressão errada. Kyoto é uma cidade como poucas outras no mundo. Com um pouquinho de esforço – e uma mente aberta – é possível sair do óbvio (e da sobriedade) com muito gosto.

Fushimi é conhecido pelo seu santuário, a atração mais batida – e absurdamente lotada – de todo o Japão. Porém, se você estiver disposto a olhar fora da caixa, verá que o distrito oferece uma senhora imersão em cultura japonesa.

O melhor jeito de começar a aventura é com um passeio de barco. Os jikkokubune são antigos transportes de sake que hoje transportam passageiros, navegando por vielas que parecem a Little Venice em Londres, ou os canais de Amsterdã.

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Digo aventura sem aspas: o passeio é completamente em japonês. Não espere encontrar muitos gaijin, mas também não se assuste. Um onegai shimasu ali e um arigatou gozaimasu acolá dão conta de muita coisa. E você não precisará de um guia para curtir o melhor que a viagem tem a oferecer.

Fushimi é famoso por ser o lugar onde Ryoma Sakamoto, um dos heróis da modernização japonesa, foi assassinado por capangas do shogun. Margeando seus canais, é possível ver uma estátua do ativista, assim como o ryokan Teradata, onde ele foi assassinado.

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Como os jikkokubune já sugerem, no entanto, a estrela do distrito é o sake. Fushimi é o lar de vários produtores do icônico vinho de arroz, incluindo a Gekkeikan, que hospeda um belo museu.

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Barris de sake no museu da Gekkeikan

Eu e a Vivian somos formados como sommeliers, então sempre fazemos questão de visitar fábricas de bebida mundo afora. Como é de praxe em outros museus, o da Gekkeikan oferece uma degustação de alguns sakes da marca ao fim da visita.

Sake não é uma bebida muito badalada no Brasil. Em parte, porque as marcas mais populares no comércio são bastante ruins. Em parte, também, porque entendê-la é uma tarefa incrivelmente complexa.

Mesmo para mim, acostumado a decorar terroirs da França, o líquido é um grande mistério. Não ajuda o fato dos rótulos serem escritos apenas em kanji – em muitos casos, a mão.

Como leigo, no entanto, posso dizer que gostei do que bebi. O Ginjoshu é um sake mais adocicado, enquanto que o Tama no Izumi Daiginjo é bem seco. O museu também serve “vinho” de ameixa, um fermentado japonês estupidamente doce que parece uma ume (ameixa de onigiri) reimaginada como bebida de festa junina.

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Bebidas oferecidas na degustação. Fonte

Se você não bebe, outra boa maneira de sair do óbvio é procurar restaurantes especiais, fora do eixo turístico. E não falo do mercado de peixes, nem de franquias gigantes como o Sushi Zanmai.

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É o caso do Tousuiro, especializado no ingrediente mais subestimado da culinária japonesa: o tofu.

Não, não faça careta. Se você pensa no tofu como apenas aquele “queijo” gelatinoso feito de soja, é porque nunca o experimentou em seu país de origem.

O Tousuiro oferece vários menus degustação com séries de pratos cuja estrela é o dito cujo. São tofus preparados de todas as formas imagináveis: cru, cozido no vapor, em blocos rígidos, em pastas, fritos como polenta, grelhados e com todo o tipo de acompanhamento.

Se te parecer exótico demais, uma alternativa bem romântica (fica a dica, namorados) é a famosa culinária kaiseki.

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Kaiseki, originalmente, era uma pequena refeição preparada por monges budistas. Hoje em dia, virou o nome de menus-degustação que servem vários pequeninos pratos (em alguns casos, mais de quinze).

Esses restaurantes podem ser encontrados por todo o Japão, mas em Kyoto parecem brotar em toda parte. Reserve uma noite em um desses lugares e você terá uma noite na cidade para nunca mais esquecer: longe das hordas de turistas, servido por garçonetes de kimono e comendo uma das melhores comidas do Japão.

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karyo kaiseki

Só não se esqueça de reservar – o que, já aviso, não é tão fácil quanto parece. Restaurantes japoneses não costumam fazer reservas pela internet. Os mais tradicionais nem possuem site.

Para garantir um lugar, é preciso ligar – de um endereço japonês, ainda por cima! Isso significa que, muito embora alguns dos endereços sejam bastante procurados, não é sempre possível reservar com antecedência.

Mas não se preocupe: basta pedir para a recepcionista de seu hotel para que faça a reserva para vocês. Não tenha vergonha, elas estão acostumadas.

Os restaurantes kaiseki podem ser bastante salgados (com o perdão do trocadilho). Entretanto, lembre-se que o Japão possui uma excelente comida de rua. Pagando de 500¥ a 1000¥ por uma refeição ao longo da semana, é fácil economizar para um jantar super especial.

Acredite em mim, vale a pena. Aquele sashimi de baigai não reaparecerá na sua frente tão cedo.

Uma Aventura no Japão continua segunda feira. Fique de olho!