no meu primeiro post nesse blog eu disse que o mais sensacional do universo geek é sua capacidade de agregar aquilo que está do lado de fora. Para a surpresa dos que rotulavam todos os videogames como “baixa cultura”, isso inclui as maiores obras-primas da humanidade.

No meu artigo sobre The Witcher, eu mencionei que a série é baseada na mitologia eslava, e que algumas de suas lendas já haviam servido de inspiração a compositores. A ‘Caçada Selvagem’, tropa de cavaleiros fantasmagóricos que Geralt enfrenta no homônimo The Wild Hunt, não é exceção. Há algo de muito badass em guerreiros voadores que roubam as almas das pessoas em tempos de guerra, e isto não escapou à atenção dos grandes mestres da música.

Se você já jogou ou pretende jogar The Wild Hunt e precisa de uma trilha sonora para entrar no clima (ou só quer relembrar a luta sensacional contra Imlerith), vai aqui uma pequena seleção.

Gurre Lieder, de Arnold Schoenberg

Gurre Lieder é uma peça monumental para coro e orquestra sobre uma história trágica de amor. O texto acompanha a paixão do rei Valdemar IV da Dinarmarca por Tove, a qual é eventualmente assassinada. Dramática como é, a história não podia deixar de chamar a atenção dos cavaleiros espectrais. Uma das canções da 3a parte soará familiar a todos os fãs do game da CD Projekt Red:

Salve, ó rei, na praia de Gurre!

Agora nós caçamos ao longo da ilha!

Holla!

Atirando flechas de arcos sem corda,

com olhos vazios e mãos esqueléticas,

Atingindo a imagem espectral do cervo,

De forma que o orvalho do bosque brote da ferida.

Holla! Os corvos do cadafalso nos seguem,

Sobre as copas das árvores trotam os cavalos,

Holla!

Então nós caçamos como era dito,

toda noite até o juízo final.

Estudo Trancendental N.8, ‘A Caçada Selvagem’, de Franz Liszt

https://www.youtube.com/watch?v=SPSmJ9yxx4U

Liszt é conhecido como um dos maiores pianistas de todos os tempos e adaptador de vários clássicos à música, de Fausto à Divina Comédia. Húngaro de nascença, ele também pagou seu tributo ao famoso mito eslavo. Um de seus Estudos Trancedentais é dedicado à Caçada Selvagem.

De minha parte, não sei o que é mais assustador: a força e velocidade da peça ou o rosto do intérprete, que parece ter feito um pacto com Eredin e seus tenentes.

O Franco Atirador, de Carl Maria von Weber

A ópera O Franco Atirador não é exatamente sobre a Caçada Selvagem, mas sobre um caçador que faz um pacto com o demônio para conseguir balas que nunca errassem o alvo. No entanto, seria uma heresia deixar o terror dos cavaleiros fantasmagóricos de fora de uma história macabra como essa.

Maria von Weber deve ter concordado, pois incluiu a aparição da Caçada em sua cena mais tensa. Em dado momento, o protagonista visita o Caçador Selvagem (na história, um disfarce para o demônio), e testemunha uma série de horrores, incluindo a tropa voadora.

Cenário de

Cenário de “O Franco Atirador” usado em uma apresentação de 1822

Maria von Weber tinha uma afinidade com a Caçada Selvagem, pois escreveu ainda outra peça sobre ela. A música, com seu forte tom marcial, acabou virando canção de marcha para os soldados prussianos nas Guerras Napoleônicas. Nada melhor para afugentar um inimigo que se comparar a um exército de mortos-vivos.