No mês passado, dois executivos da Kodansha, Kohei Furukawa e Hiroaki Morita, vieram aos Estados Unidos para conversar sobre mangás, o futuro dos quadrinhos com as mídias digitais e o sucesso de produções japonesas em solos ocidentais.
Em especial, citaram como Attack on Titan, o hit de Hajime Isayama, foi um divisor de águas no mercado. Em uma época de baixa popularidade de mangás, a série propiciou uma renascença da demanda por quadrinhos japoneses.
Eu já falei anteriormente do imenso apelo de Attack on Titan e de como ele ultrapassa as polêmicas domésticas em torno do seu lançamento. Com sua fórmula simples, herois interessantes e fábula de luta contra a opressão, ele acerta em um acorde surpreendentemente universal.
Furukawa e Morita são da mesma opinião. A entrevista completa pode ser encontrada no Anime News Network, em inglês. Para os interessados, vão abaixo alguns highlights:
O que há em Attack on Titan que o torna universalmente atraente para leitores ao redor do mundo?
Hiroaki Morita: Eu acho que a ótima qualidade da animação na série Attack on Titan desempenhou o papel crucial em seu sucesso.
Se nós olharmos somente para o mangá, já foi dito que o elemento-chave por trás de seu apelo aos leitores estrangeiros é que é uma história forte com muitas cenas eletrizantes cheias de terror. Ele tem personagens brilhantes. Ele se passa em um lugar fechado, onde paredes cercam as personagens. Eu acho que isso é algo com o que adolescentes se identificam (risos).
Ao mesmo tempo, o autor e os editores de Attack on Titan colocaram muito esforço para transformá-lo em um mangá mainstream. Cenários em que os fracos se empenham para derrotar os fortes têm sido um tema mainstream no mangá japonês por muitos anos. Attack on Titan segue esse tema básico, e essa é uma razão porque é um sucesso tão grande entre os leitores.
(…) Como esses sucessos de venda relativamente recentes [relançamento de Sailor Moon, Attack on Titan] influenciaram seus planos para se expandir no mercado anglófono/estrangeiro?
Hiroaki Morita: (…) Comparado com os dias em que AKIRA foi publicado pela primeira vez, a tecnologia avançou muito. Isso me fez acreditar que grandes histórias podem atravessar barreiras culturais e linguísticas.
Artistas e editores de mangá costumavam ser muito focados em satisfazer o mercado doméstico japonês, mas agora eles estão simplesmente encantados com o sucesso de nossos títulos no estrangeiro. Como líder do departamento editorial da Kodansha, eu sinto que é ainda mais importante criar muitos mangás divertidos para leitores em todas as partes.
O mangá é feito em sua maioria para leitores japoneses, mas, na medida em que o interesse em mangá por leitores estrangeiros aumenta, o departamento editorial da Kodansha está considerando conteúdo na linha do “Hum… isso funcionaria no estrangeiro?” ou vocês estão optando por focar apenas no público leitor japonês e em seus interesses?
Hiroaki Morita: A maior parte dos mangás japoneses é criada para a serialização ou semanal ou mensal. Se uma série de mangá não pega bem com leitores, quando é serializada em uma revista, mesmo artistas famosos são cortados. Esse foco em marketing orientado aos leitores é o porquê do mangá japonês ser tão bom em criar conteúdo de entretenimento.
Então, isso posto, nossa primeira prioridade é criar mangás que terão apelo aos leitores japoneses. Eu acho que a política básica não vai mudar.
(…)
Falando de tendências no Japão, você vê novas tendências em histórias ou gêneros? Que tipo de histórias estão vendendo hoje no Japão?
Hiroaki Morita: Falando do mercado japonês, quase qualquer gênero e história funciona. Pessoalmente, eu acho que personagens atrativas são o elemento mais importante em um mangá. Por exemplo, sem Mikasa e Levi , Attack on Titan seria uma história muito menos interessante. Se nós conseguirmos fazer os leitores pensarem “Ah, eu quero continuar observando essas personagens!” então um hit é quase garantido. Na verdade, mangás que apresentam personagens fortes e atrativas são geralmente aqueles que vendem bem.
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